6x1 vs. 4x3: O impacto na economia, qualidade de vida e produtividade no trabalho
A ideia de uma semana de quatro dias de trabalho tem ganhado destaque em países como Portugal, Brasil e outras nações, provocando debates intensos. O economista Pedro Gomes, professor de economia na Universidade de Londres e autor do livro Sexta-feira é o novo sábado, defende que esta mudança no padrão de trabalho não é apenas um luxo moderno para melhorar a qualidade de vida, mas uma necessidade para a sobrevivência do capitalismo e o bom funcionamento da economia atual. Em 2023, Gomes coordenou um projeto-piloto em Portugal para implementar a semana de quatro dias em 41 empresas, com grande adesão e apoio entre os participantes. Abaixo, exploremos as bases e as repercussões dessa proposta.
A origem do debate e o modelo 6x1
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Historicamente, a estrutura do trabalho acompanhava as necessidades da indústria e da economia, como a introdução da semana de cinco dias, adotada por Henry Ford em 1926. Porém, as economias mudaram radicalmente desde então: a tecnologia avançou, as comunicações se aceleraram e o papel das mulheres no mercado de trabalho se expandiu. Ainda assim, o modelo de trabalho permanece praticamente igual ao estabelecido há quase um século.
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No Brasil, ainda é comum a semana de seis dias de trabalho, conhecida como 6x1. Esse modelo é considerado ultrapassado por Gomes, sendo mais ligado ao século 19 do que ao século 21. Ele aponta que a realidade dos funcionários exaustos e das famílias sem tempo de lazer são reflexos de uma estrutura laboral que não acompanha as transformações sociais e econômicas recentes. Nesse cenário, a mudança para uma semana de quatro dias representa um passo importante para a modernização da economia.
Benefícios econômicos e sociais da semana de quatro dias
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A proposta de uma semana mais curta gera resistência por parte de setores empresariais, que acreditam que menos dias trabalhados significariam menor contribuição à economia. No entanto, Gomes argumenta que mais tempo livre pode ser um impulsionador econômico, beneficiando diretamente setores como turismo, lazer e comércio. Exemplos históricos reforçam essa ideia: nos anos 1940, nos Estados Unidos, e em 1995, na China, a redução dos dias de trabalho promoveu um grande desenvolvimento econômico interno. O tempo livre levou ao aumento de atividades de lazer, impulsionando indústrias locais e fortalecendo o turismo doméstico.
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Além disso, Gomes destaca que a maior participação das mulheres no mercado de trabalho torna urgente a redução de horas trabalhadas. Há algumas décadas, a maioria das mulheres cuidava do lar enquanto o homem trabalhava fora, mas essa divisão mudou e hoje muitas famílias possuem duas jornadas intensas. A redução para quatro dias por semana pode aliviar a carga doméstica e reduzir o estresse, que causa aumento de doenças como burnout e sobrecarrega o sistema de saúde.
Resistência e adaptação do setor empresarial
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A resistência empresarial é uma constante histórica. Desde a redução do trabalho infantil até a criação do dia de oito horas, sempre houve receio das empresas em adaptar suas rotinas. No entanto, a experiência mostra que essas mudanças são viáveis e, muitas vezes, vantajosas. Henry Ford, por exemplo, introduziu a semana de cinco dias e aumentou a produtividade em sua linha de montagem. Na Inglaterra, Robert Owen foi pioneiro na jornada de oito horas e também viu melhorias em sua produção.
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No projeto-piloto de Gomes em Portugal, dos 41 participantes, apenas quatro empresas decidiram voltar à semana de cinco dias após a experiência. Essa aceitação sugere que, quando as empresas se adaptam, o modelo pode funcionar bem, até mesmo no longo prazo. Além disso, a adaptação ao modelo 4x3 envolve ajustes práticos, como a redução de reuniões, o uso de tecnologia para tarefas repetitivas e a eliminação de processos burocráticos. Isso torna o trabalho mais eficiente e reduz o tempo necessário para realizar as mesmas atividades.
O papel da ´legislação e o futuro da escala de trabalho
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No Brasil, a discussão sobre o fim da jornada 6x1 e a possível transição para a semana de cinco dias tem provocado debates no Congresso. Gomes acredita que a legislação pode desempenhar um papel crucial na viabilização dessa mudança, assim como ocorreu em outras transições históricas. Ele argumenta que a regulamentação do trabalho é uma responsabilidade do Estado e que isso não fere princípios liberais de livre mercado, pois todos os setores serão tratados igualmente. A legislação, portanto, ajudaria a criar um ambiente mais saudável e justo para os trabalhadores.
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A mobilização popular também se apresenta como uma ferramenta poderosa para impulsionar a discussão e pressionar os políticos. Movimentos como os organizados pelo vereador Rick Azevedo, do Rio de Janeiro, mostram que a sociedade está atenta ao tema. Segundo Gomes, a semana de quatro dias poderia fortalecer a economia ao oferecer uma resposta prática ao descontentamento com o trabalho, promovendo um equilíbrio entre produtividade e qualidade de vida.
A semana de quatro dias é uma proposta que vai além da melhoria do bem-estar individual. Ela representa um modelo de trabalho mais eficiente, alinhado às necessidades e ao estilo de vida contemporâneos. O modelo 4x3, já experimentado em diversos países, aponta para benefícios que incluem não só o aumento da produtividade, mas também uma maior satisfação dos trabalhadores e impulsos diretos para a economia.
Gomes defende que a transição deve ser gradual e adaptada às necessidades de cada setor. É necessário planejamento e uma mudança cultural, mas os resultados sugerem que essa adaptação é possível e pode beneficiar a economia como um todo. Ao incentivar a produtividade de forma sustentável, a semana de quatro dias pode ser uma resposta aos desafios modernos, oferecendo um caminho para um capitalismo mais saudável e uma sociedade mais equilibrada.