Análise: Disparada do dólar - O que ela revela sobre a economia de Lula?
Em dezembro de 2024, o dólar alcançou uma cotação recorde, ultrapassando os R$ 6,30
, e essa valorização da moeda americana trouxe à tona diversos questionamentos sobre a condução da economia brasileira no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. A alta do dólar, que pode indicar instabilidade, também ofuscou alguns dos bons resultados da gestão até o momento, como o crescimento econômico e a queda na taxa de desemprego. Vamos entender melhor o que está por trás dessa disparada da moeda, o que ela significa para o futuro do país e as possíveis soluções que o governo pode adotar.
O cenário econômico: O dólar e a crise fiscal
- A alta do dólar não ocorre por acaso e é reflexo de vários fatores internos e externos. A desvalorização do real revela uma crise fiscal que o Brasil enfrenta, especialmente no que diz respeito ao controle das contas públicas e ao endividamento. De acordo com analistas, os fundamentos econômicos do país não justificam um dólar tão alto, o que indica que o mercado está reagindo à percepção de risco sobre a capacidade do governo em honrar suas dívidas no futuro.
Fatores que impactam o dólar:
- A alta do dólar afeta diretamente a inflação e os juros, já que o Brasil precisa de uma moeda forte para importar produtos essenciais e equilibrar a balança comercial.
- Isso cria um ciclo: a moeda americana mais cara dificulta o trabalho do Banco Central de controlar a inflação e pode levar a juros mais altos, impactando a economia em diversas frentes.
Medidas econômicas e seus efeitos
O governo Lula tomou algumas medidas para ajustar a economia, mas a falta de um ajuste fiscal no início de seu mandato foi um erro estratégico. A demora em implementar reformas fiscais essenciais acabou tornando a tarefa mais difícil, com o pacote de corte de gastos anunciado tardiamente e mal recebido pela população e pelo mercado. Além disso, a decisão de aumentar a isenção de Imposto de Renda para ganhos de até R$ 5 mil foi mal compreendida, pois não estava alinhada com a expectativa de austeridade.
Erros de gestão:
- Segundo especialistas, o governo deveria ter realizado um ajuste fiscal mais cedo, como foi feito em sua primeira gestão, para evitar esse cenário. Em vez disso, a falta de medidas mais eficazes na contenção dos gastos gerou desconfiança no mercado e aumentou o custo do ajuste fiscal no momento atual.
Custo mais alto do ajuste fiscal:
- A falta de ações preventivas fez com que o custo de ajustes, como o corte de gastos, fosse muito maior agora, em um contexto de juros altos e dólar elevado. Isso impacta a dívida pública e agrava a crise fiscal.
A política de gastos e seus desafios
- Uma das grandes medidas do governo foi a aprovação da PEC da Transição, que permitiu aumentar os gastos públicos para ampliar programas sociais e corrigir o salário mínimo. Embora a medida tenha sido importante para a população mais pobre, ela pesou no orçamento e gerou críticas sobre a falta de controle fiscal.
PEC da transição e seus efeitos:
- A PEC permitiu que o governo subisse as despesas além do teto previsto para 2024, mas o impacto disso nas contas públicas foi significativo, especialmente com o aumento de gastos atrelados ao salário mínimo e benefícios como aposentadorias e o Bolsa Família.
Desafios no Congresso e resistência a cortes:
- A oposição no Congresso e a resistência a cortes fiscais, como a revisão de benefícios tributários, dificultam a implementação de reformas que poderiam aliviar o cenário fiscal do país.
O impacto na reeleição e no futuro
- Embora a crise fiscal e a alta do dólar afetem a imagem do governo, analistas acreditam que isso não necessariamente comprometerá a reeleição de Lula. O futuro político do governo dependerá muito da taxa de desemprego e da inflação, que afetam diretamente a vida dos brasileiros.
Taxa de juros e inflação:
- O Banco Central está elevando as taxas de juros para controlar a inflação, o que pode afetar a economia em diversos setores, tornando os juros mais altos e impactando a atividade econômica.
O dilema fiscal e a reeleição:
- O aumento dos juros e a alta do dólar são elementos que contribuem para um cenário econômico difícil, mas o governo deve focar na manutenção da redução do desemprego e da inflação para garantir sua popularidade.
O papel de Fernando Haddad e as perspectivas para 2025
- Fernando Haddad, Ministro da Fazenda, tem defendido a revisão dos benefícios tributários como medida para reduzir o déficit fiscal. No entanto, essas reformas enfrentam resistência no Congresso, o que dificulta o avanço de suas propostas. Para ele, a alta do dólar reflete não apenas fatores externos, mas também problemas domésticos, como a falta de controle fiscal.
A falta de acordo no Congresso:
- O governo precisa do apoio do Congresso para reduzir as renúncias fiscais e revisar os benefícios que prejudicam o equilíbrio das contas públicas. A falta de consenso e as pressões de lobbies dificultam o avanço dessas reformas.
A disparada do dólar e a crise fiscal são desafios reais para o governo de Lula, mas não são intransponíveis. O cenário atual exige medidas rápidas e eficazes para controlar o gasto público, estabilizar a economia e recuperar a confiança do mercado. A revisão dos benefícios tributários e um ajuste fiscal mais robusto são passos fundamentais, mas o sucesso dessas medidas dependerá da capacidade de articulação política do governo e do apoio do Congresso. O futuro político de Lula, bem como a estabilidade econômica do país, estarão diretamente ligados ao modo como esses desafios serão enfrentados nos próximos anos.