"Ainda estou aqui" e sua história de resistência contra a ditadura: O filme brasileiro que está conquistando o mundo
O filme Ainda Estou Aqui, dirigido por Walter Salles, tem conquistado sucesso não apenas nas bilheteiras, mas também como um marco histórico na cinematografia brasileira. Sua trajetória é um reflexo da importância crescente do cinema como uma ferramenta de resgate da memória nacional, de enfrentamento dos períodos difíceis da história e de reafirmação da identidade do Brasil no cenário mundial.
O sucesso internacional e as indicações ao Oscar
O filme Ainda Estou Aqui tem sido aclamado internacionalmente, com grande destaque nas bilheteiras dos Estados Unidos e da Europa, além de ser indicado a três prêmios no Oscar 2025, incluindo Melhor Filme, Melhor Filme Internacional e Melhor Atriz (com Fernanda Torres). Este feito histórico coloca o Brasil em um lugar de destaque, tendo sido a primeira vez que um filme brasileiro concorre ao maior prêmio da Academia, o de Melhor Filme.
O impacto nas bilheteiras:
- No Brasil, o filme já superou 4 milhões de espectadores, uma marca impressionante, considerando a concorrência de grandes blockbusters.
- Internacionalmente, em países como os EUA e Portugal, o filme tem batido recordes de arrecadação, destacando-se como a maior estreia brasileira na América do Norte.
A relevância histórica e sociológica
Ainda Estou Aqui não é apenas um filme sobre um período doloroso da história brasileira, mas também uma obra que resgata e revisita eventos cruciais da ditadura militar, que durou de 1964 a 1988. O filme foca na história de Eunice Paiva, esposa do deputado Rubens Paiva, torturado e morto durante esse regime. A obra ilumina a luta de Eunice para buscar a verdade sobre a morte do marido e exigir reconhecimento oficial dos abusos cometidos pela ditadura.
O impacto da memória:
O filme ressurge como um resgate necessário da memória nacional, ajudando a conscientizar a população, especialmente as novas gerações, sobre os horrores do regime militar. Além disso, o filme contribui para a continuação da busca por justiça, com novos processos sendo reabertos para responsabilizar os culpados pelos crimes da ditadura.
O papel da cultura brasileira na recuperação da autoestima nacional
A produção de Ainda Estou Aqui também desempenha um papel fundamental na recuperação da autoestima do Brasil, especialmente em um contexto onde o governo anterior à produção do filme promovia cortes significativos nos investimentos culturais. Este filme não só representa um símbolo de resistência política, mas também uma reafirmação da força da indústria audiovisual brasileira.
A renascença cultural:
A volta do interesse por filmes de temática nacional, como Ainda Estou Aqui, tem incentivado um renascimento do orgulho pela cultura brasileira e pela arte cinematográfica. Isso tem ajudado a reverter um período de escassez e censura cultural, dando mais visibilidade ao Brasil em festivais e premiações internacionais.
O papel do afeto na narrativa
Walter Salles, ao dirigir o filme, decidiu contar essa história de forma delicada e intimista, preferindo a contenção à exposição exagerada. O foco não está apenas nas atrocidades da ditadura, mas também no afeto e na resistência de uma família diante do regime opressor. Essa abordagem humaniza o sofrimento e coloca a figura de Eunice como um símbolo de força, resistência e busca pela verdade.
O enfrentamento da ditadura através do afeto:
Em vez de simplesmente retratar a brutalidade da época, Ainda Estou Aqui utiliza a história de Eunice Paiva para revelar como o amor, a perda e a luta por justiça podem atravessar gerações, conectando o passado ao presente e mantendo viva a memória dos que sofreram injustiças.
A importância do filme além das premiações
- Mesmo que Ainda Estou Aqui não vença nenhum Oscar, seu sucesso já é inegável. O filme não só teve um desempenho notável nas bilheteiras e no reconhecimento internacional, mas também desempenhou um papel crucial na recuperação da memória histórica do Brasil, na promoção da reflexão sobre os horrores da ditadura e na revitalização da autoestima nacional. Ele reafirma a importância de subsídios culturais para a indústria audiovisual, independente de qualquer governo, e se torna um exemplo do poder do cinema como agente de mudança social e histórica.
Este filme nos mostra, de forma contundente, como o cinema pode ser uma poderosa ferramenta de resgate e transformação, trazendo à tona discussões necessárias para a construção de uma sociedade mais justa e consciente de seu passado.