Assassin's Creed Shadows e a hipocrisia anti-woke: Por que a indústria de games precisa de representatividade?

O lançamento de Assassin's Creed Shadows em 20 de março de 2025 reacendeu debates sobre representatividade e preconceito na indústria dos games. Com média de 81 no Metacritic e OpenCritic, o jogo foi bem recebido pela crítica, mas também se tornou alvo de ataques coordenados por grupos que acusam a franquia de promover uma "agenda woke". Este resumo explora a hipocrisia dessas críticas, analisando casos similares, a importância da representatividade e como a indústria está evoluindo.
O sucesso e a polêmica de Assassin's Creed Shadows
O jogo, ambientado no Japão feudal, apresenta Yasuke, um samurai negro baseado em uma figura histórica real. A escolha da Ubisoft gerou reações contraditórias: enquanto historiadores e fãs celebraram a representação, críticos alegaram "falta de veracidade histórica", ignorando que a série sempre misturou ficção e mitologia (como em Valhalla e Odyssey). A campanha de marketing brasileira, com um vídeo em estilo tokusatsu e participação de Edu Falaschi, também foi alvo de comentários transfóbicos contra a apresentadora Thais Matsufugi, revelando um preconceito estrutural.
A inconsistência dos críticos da "lacração"
Casos como Monster Hunter Wilds e Split Fiction mostram como a narrativa anti-"woke" se desfaz diante do sucesso comercial:
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Monster Hunter Wilds foi acusado de "lacração" por incluir personagens como Olivia, mas vendeu 8 milhões de cópias em 3 dias, tornando-se o maior lançamento da Capcom.
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Split Fiction, da Hazelight (criadores de It Takes Two), foi criticado por ter duas protagonistas mulheres, mas vendeu 2 milhões de unidades em uma semana.
Esses exemplos evidenciam que as críticas muitas vezes mascaram resistência à diversidade, não problemas reais de qualidade.
Representatividade como reflexo da realidade
A indústria está se tornando mais diversa, mas ainda há disparidades. Segundo a IGDA (International Game Developers Association), apenas 24% dos profissionais são mulheres, 3% não-binários e 2% negros. No entanto, nomes como Amy Hennig (Uncharted), Neil Druckmann (The Last of Us) e Fernanda Dias (Ubisoft) estão transformando os games com narrativas inclusivas.
A contradição na demanda por "realismo histórico"
Muitos críticos de Assassin's Creed Shadows exigiram "precisão histórica" para Yasuke, mas ignoraram elementos fantásticos em jogos anteriores da franquia, como deuses nórdicos e criaturas mitológicas. Livros como O Samurai Africano (Geoffrey Girard e Thomas Lockley) comprovam a existência de Yasuke, mostrando que o problema não é a história, mas o racismo velado.
Games como espelho da sociedade
A polêmica em torno de Assassin's Creed Shadows expõe a dificuldade de parte do público em aceitar que os games são uma forma de arte dinâmica e inclusiva. A indústria está evoluindo para refletir a diversidade do mundo real, e críticas baseadas em preconceito — seja racial, de gênero ou cultural — perdem força diante do sucesso comercial e artístico dessas obras. No fim, como destacou o autor Victor Casagrande:
"Videogame é cultura, e cultura deve ser para todos".