A era Trump-Putin: Desafios geopolíticos, BRICS e o fim da hegemonia do Dólar - Do conflito à cooperação?

A geopolítica mundial vive um momento de reconfiguração com a volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. A recente aproximação diplomática com a Rússia, sem a participação da Ucrânia ou da União Europeia, marca uma inflexão na postura de Washington. Mais do que uma ruptura, essa mudança representa uma correção de rumo em relação à política externa adotada por Joe Biden.
A falha da administração Biden e a adaptação da Rússia
Sob Biden, os Estados Unidos apostaram em sanções econômicas extremas — chamadas de hipersanções — e no isolamento financeiro da Rússia, com destaque para a expulsão do país do sistema SWIFT. No entanto, essa estratégia teve o efeito oposto: forçou Moscou a se adaptar, estreitando laços com a China, Coreia do Norte e Irã, e fortalecendo uma nova ordem geopolítica multipolar.
O pragmatismo geopolítico de Trump
Trump, desde sua primeira presidência, já criticava a dependência europeia dos EUA para defesa militar e os gastos excessivos com a OTAN. Agora, sua postura é ainda mais direta: que a Europa cuide da sua própria segurança e que os EUA se concentrem em seus interesses. As reuniões recentes em Riad, sem a presença da Ucrânia, deixam claro que Washington busca redefinir sua influência no conflito russo-ucraniano por meio do pragmatismo, não do confronto direto.
A ascensão do BRICS e o declínio da hegemonia do dólar
O fortalecimento do grupo BRICS — especialmente com sua versão ampliada, o BRICS+ — também desafia a liderança norte-americana. O bloco apresenta alternativas financeiras ao sistema ocidental, como o Novo Banco de Desenvolvimento e o uso de moedas nacionais no comércio. A exclusão da Rússia do SWIFT evidenciou o risco de dependência de um sistema controlado por um único país, e isso acelerou o interesse por um sistema financeiro alternativo no Sul Global.
A aliança sino-russa e os novos polos de poder
A parceria entre China e Rússia atingiu um nível estratégico sem precedentes, impulsionada por interesses comuns frente à pressão dos EUA. Essa união preocupa Washington por envolver duas potências nucleares com ambições de liderança global. A aproximação de Moscou com regimes como o da Coreia do Norte e o Irã reforça ainda mais essa frente alternativa à ordem internacional liderada pelos EUA.
O desgaste da política externa tradicional
O envolvimento militar e financeiro dos EUA na guerra da Ucrânia foi amplamente rejeitado por parte significativa da população norte-americana. Apesar da propaganda pró-financiamento da guerra, muitos viram como um desperdício de recursos em meio a problemas internos graves. Esse desgaste contribuiu para a vitória de Trump e fortaleceu sua proposta de um realinhamento estratégico, mais focado nos interesses domésticos e menos na imposição de valores e agendas no exterior.
A atual política externa de Donald Trump, apesar de polêmica e marcada por declarações controversas, representa uma tentativa de reposicionar os Estados Unidos em um mundo que se mostra cada vez mais multipolar. A lógica de confrontação direta parece dar lugar à negociação estratégica e ao pragmatismo. O recado é claro: os EUA não querem mais bancar sozinhos a segurança do Ocidente e buscam reduzir o espaço de atuação dos novos polos de poder global, como o BRICS e o eixo Moscou-Pequim. Em meio a essa reconfiguração, o mundo observa com atenção os próximos passos do novo jogo geopolítico que se desenha.