Análise: O bolsonarismo e a narrativa da perseguição´política - Um desafio para Lula em 2026
A denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Jair Bolsonaro e mais 33 pessoas se tornou um dos acontecimentos políticos mais esperados dos últimos meses. Embora o documento não traga revelações inéditas, reforça a tese de que Bolsonaro foi o principal responsável por uma tentativa de subversão democrática que culminou nos eventos de 8 de janeiro de 2023.
A seguir, entenda os principais pontos dessa denúncia e como ela impacta o cenário político até as eleições presidenciais de 2026.
O que há de novo na denúncia?
A denúncia da PGR apresenta dois elementos principais:
1.
A responsabilização direta de Bolsonaro: O documento argumenta que ele adotou uma postura de rompimento institucional desde que Lula teve suas condenações anuladas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) em 2021. A partir daí, Bolsonaro e seus aliados passaram a atacar a credibilidade das urnas eletrônicas e do próprio STF.
2.
O conceito de golpe de Estado na atualidade: Ao contrário dos golpes tradicionais, que envolvem tanques nas ruas e fechamento do Congresso, a tentativa de golpe de Bolsonaro teria ocorrido por meio da desinformação, manipulação das redes sociais e incitação ao caos social para manter-se no poder.
A influência do trumpismo e a radicalização do discurso
A retórica usada por Bolsonaro e seus apoiadores seguiu o modelo de Donald Trump, que disseminou slogans como "stop the steal" e "big lie" para questionar os resultados eleitorais nos Estados Unidos. Essa estratégia envolveu:
- Ataques ao STF e ao sistema eleitoral para desacreditar as eleições antes mesmo que ocorressem.
- Uso intenso de redes sociais para espalhar desinformação e mobilizar apoiadores.
- Discurso de perseguição política para transformar Bolsonaro em vítima de um "sistema corrupto".
O plano de golpe e o envolvimento militar
Um dos pontos mais graves da denúncia é a revelação de um plano golpista chamado "Punhal Verde e Amarelo". Segundo o relatório da PGR:
- Havia planos para assassinar autoridades, incluindo o ministro Alexandre de Moraes, o presidente Lula e o vice Geraldo Alckmin.
- Militares de alta patente estavam envolvidos, incluindo oficiais das Forças Especiais do Exército.
- Bolsonaro sabia e não impediu a conspiração, o que reforça sua responsabilidade nos atos de 8 de janeiro.
- O envolvimento militar não é uma surpresa. Durante o governo Bolsonaro, houve uma crescente militarização do Executivo, com o número de militares no governo aumentando significativamente.
O impacto da denúncia e a narrativa de perseguição política
A acusação contra Bolsonaro teve um efeito imediato: consolidou a narrativa de que ele é um "perseguido político". Essa estratégia pode fortalecer a extrema direita, pois:
1.
Mobiliza seus apoiadores ao redor da ideia de que há uma conspiração contra Bolsonaro.
2.
Reforça sua influência política mesmo sem disputar eleições, já que está inelegível.
3.
Cria novas lideranças bolsonaristas como Michelle Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro e Tarcísio de Freitas, que podem se candidatar em 2026.
O cenário para as eleições de 2026
Apesar do favoritismo temporário de Lula, o bolsonarismo continua sendo a principal força de oposição. Isso se deve a fatores como:
- Queda na popularidade do governo Lula, que caiu de 35% para 24% nos últimos meses.
- Convocação de manifestações nacionais em março, que podem medir a força da mobilização bolsonarista.
- Apoio de figuras internacionais, como Donald Trump e Elon Musk, que criticam abertamente o STF e o governo brasileiro.
- A possível volta de Trump à presidência dos Estados Unidos também pode influenciar o cenário político brasileiro, reforçando o apoio externo à extrema direita.
O caminho até 2026 será turbulento
A denúncia contra Bolsonaro não apenas reforça as acusações sobre sua tentativa de golpe, mas também fortalece sua narrativa de perseguição política. Isso significa que, mesmo inelegível, ele continuará exercendo influência e moldando a oposição ao governo Lula.
Com novos líderes emergindo no bolsonarismo e um cenário político polarizado, a disputa de 2026 promete ser acirrada. A forma como o governo Lula responderá a essas tensões será crucial para definir os rumos do país nos próximos anos.