Mais seguidores que eleitores: Influenciadores podem desequilibrar uma eleição?
Nos últimos anos, os influenciadores digitais passaram a desempenhar um papel importante nas eleições, especialmente em pleitos municipais. Suas redes sociais atraem milhões de seguidores, muitas vezes superando o número de eleitores das cidades onde promovem candidatos. Este fenômeno levanta questões sobre a influência desses formadores de opinião digitais na democracia e o equilíbrio das campanhas eleitorais.
Importância dos influenciadores nas eleições
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Formadores de opinião moderna: O apoio de influenciadores digitais em campanhas políticas não é novidade em termos de conceito, mas a diferença está no meio de comunicação. Antes, figuras públicas como atletas ou artistas desempenhavam esse papel, enquanto hoje, o espaço das redes sociais oferece uma plataforma direta e massiva de interação entre influenciadores e seus seguidores.
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Decisivos em cidades menores: Em cidades menores, onde uma pequena diferença de votos pode ser determinante, o apoio de influenciadores locais pode desequilibrar uma eleição. Isso é especialmente relevante em campanhas municipais, onde a quantidade de eleitores é reduzida e a proximidade com a comunidade facilita a persuasão.
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Capacidade de mobilização: Influenciadores têm uma capacidade ampliada de formar opinião porque não dependem dos meios tradicionais de comunicação, como TV ou rádio. A interação direta com o público cria uma relação mais pessoal, o que potencializa seu impacto.
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Exemplos práticos: Bruno Diferente, um influenciador com quase 7 milhões de seguidores, é um exemplo de como figuras da internet podem amplificar o alcance de campanhas eleitorais, ajudando a projetar candidatos locais que, de outra forma, teriam pouca visibilidade.
Legalidade e limites
A legislação eleitoral brasileira permite a manifestação de opinião política por qualquer pessoa, incluindo influenciadores. No entanto, existem limites claros quanto ao uso de recursos financeiros:
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Proibição de pagamentos: Influenciadores não podem receber pagamentos para promover candidatos, exceto para impulsionamento de conteúdo em redes sociais por contas oficiais de partidos e candidatos. Qualquer transação financeira não declarada pode resultar em multas de até R$ 30 mil ou até mesmo na cassação de candidaturas.
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Casos de cassação: Um exemplo de violação das regras ocorreu em Minas Gerais, em 2018, quando um candidato ao Senado teve sua candidatura cassada por abuso de poder econômico após contratar influenciadores digitais para promover sua campanha.
Diferença entre manifestação pessoal e empresarial
Uma diferença importante está entre perfis pessoais e empresariais. Perfis de empresas, mesmo que pertençam a influenciadores, não podem fazer campanha eleitoral, pois estão atraindo seguidores com base na prestação de serviços, e não em uma manifestação pessoal.
Exemplo de uso das redes sociais
A seguir, um exemplo ilustrativo que compara o número de seguidores de um influenciador com o número de eleitores em Belém, destacando o potencial impacto:
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Bruno Diferente, influenciador digital com um público de cerca de
7 milhões de seguidores
, possui quase 6 vezes mais seguidores do que o número total de eleitores da cidade de Belém, que conta com aproximadamente1.056.697 eleitores
. Isso significa que o alcance de Bruno nas redes sociais é significativamente maior do que a quantidade de pessoas aptas a votar em Belém. -
Já Pablo Marçal, que além de influenciador digital também se aventurou como candidato, possui cerca de
4,6 milhões de seguidores
. Comparando com o eleitorado de Belém, Pablo tem aproximadamente4,35 vezes
mais seguidores do que o número de eleitores da cidade.
Relevância do conteúdo e novos desafios
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As redes sociais, em particular o TikTok, desempenham um papel crucial ao atrair jovens eleitores que preferem consumir informações em pequenos trechos de conteúdo. Isso altera o formato tradicional de campanhas, que dependia de longos debates e propagandas na TV.
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Contudo, especialistas alertam que, apesar da popularidade dos influenciadores, eles não garantem votos. Muitas vezes, os seguidores são conquistados por motivos alheios à política, o que pode limitar seu impacto em pleitos de grande escala, como eleições nacionais.
O uso de influenciadores digitais nas eleições é uma estratégia crescente, com potencial significativo, especialmente em pleitos locais. Embora a legislação limite o uso financeiro e a propaganda digital, a influência pessoal desses formadores de opinião pode moldar o cenário político. No entanto, o impacto efetivo depende de como os eleitores interpretam e agem sobre essas mensagens, tornando fundamental a necessidade de vigilância para evitar abuso de poder econômico.