O fim do regime Assad: Oportunidades e desafios para a Síria pós-guerra
O domínio de 54 anos da família Assad sobre a Síria chegou ao fim em um momento de mudanças inesperadas. A oposição, dividida e fragmentada por anos, conseguiu conquistar rapidamente cidades importantes como Aleppo, Hama, Homs e finalmente a capital, Damasco, em 7 de dezembro de 2024. A guerra civil, que já durava 13 anos, havia estagnado desde 2020, mas a ofensiva atual desestabilizou o regime.
A renúncia de Bashar al-Assad e sua fuga deixam para trás uma nação fragmentada e um vazio de poder que desafiará não apenas a oposição, mas também os apoiadores internacionais, como EUA, Turquia, Rússia e Irã, cujos interesses divergentes complicam ainda mais o cenário.
Importância da unidade na oposição
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Desde o início da guerra civil, a oposição síria sofreu com divisões internas, baseadas em diferenças ideológicas e no apoio internacional fragmentado. A unidade será crucial para garantir estabilidade e evitar que a Síria se torne ainda mais vulnerável a conflitos internos.
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Atualmente, a oposição é composta principalmente pelo grupo islâmico Hayat Tahrir al-Sham (HTS), que liderou a recente ofensiva, e pelo Exército Nacional Sírio, apoiado pela Turquia. A relação entre esses grupos e as Forças Democráticas Sírias (FDS), lideradas pelos curdos e apoiadas pelos EUA, é marcada por conflitos ideológicos e estratégicos. Essa fragmentação interna ameaça enfraquecer a capacidade da oposição de consolidar um governo unificado e estável.
A influência externa e o cenário regional
A queda de Assad afeta diretamente as potências estrangeiras que influenciaram a guerra:
- Rússia e Irã: A Rússia, focada na guerra na Ucrânia, e o Irã, desgastado por conflitos com Israel, reduziram seu apoio a Assad. Isso enfraqueceu sua capacidade de conter a oposição.
- EUA e Turquia: Enquanto os EUA veem a redução da influência russa e iraniana como positiva, estão preocupados com a ascensão de grupos islâmicos considerados extremistas. A Turquia, por sua vez, busca proteger seus interesses contra um possível estado curdo no nordeste da Síria.
O envolvimento de Israel na região ganhou destaque.
- Suas forças estão muito próximas de Damasco, o que representa um movimento estratégico e aumenta a pressão sobre o já fragmentado cenário sírio. Esse fato reforça as tensões regionais e evidencia o impacto da instabilidade síria em seus vizinhos.
Riscos de “Sucesso Catastrófico”
- A preocupação de Washington com um "sucesso catastrófico" está ligada ao risco de que o vácuo deixado por Assad seja preenchido por grupos radicais. O Hayat Tahrir al-Sham, apesar de seus esforços para suavizar sua imagem, continua sendo visto com ceticismo por sua conexão com a Al-Qaeda. A instabilidade também ameaça os 900 militares americanos estacionados na Síria, aumentando a complexidade da política externa dos EUA.
Os desafios para uma nova Síria
- A fragmentação da oposição e a falta de governança centralizada tornam a transição extremamente difícil. A diversidade étnica e religiosa da Síria exige um sistema político inclusivo, mas as divisões internas entre os grupos dificultam a formação de uma liderança unificada. Além disso, a presença de Israel próximo à capital reforça a fragilidade do país, ampliando os desafios de segurança e estabilidade.
O fim do regime de Assad é um marco histórico para a Síria, mas também um ponto de partida para desafios monumentais. Reconstruir uma nação devastada pela guerra requer um esforço coordenado entre as facções da oposição e a comunidade internacional. A presença de Israel tão próxima de Damasco e o envolvimento de potências estrangeiras indicam que a estabilidade regional dependerá de como a Síria manejará sua transição. O futuro do país dependerá de sua capacidade de promover inclusão, pluralismo e cooperação, evitando repetir os erros do passado.