Reflexão: A violência policial no Brasil - Um problema estrutural e político
A violência policial no Brasil é tema recorrente de discussões e protestos, com raízes históricas profundas e ramificações políticas significativas. Recentemente, o coronel aposentado da Polícia Militar de São Paulo, Adilson Paes de Souza, trouxe luz a essa questão em uma entrevista detalhada. Com 30 anos de carreira e uma vasta experiência acadêmica, ele analisa o problema sob diferentes perspectivas, revelando suas conexões com a história do Brasil e os incentivos políticos que perpetuam esse modelo.
Contexto histórico e estrutural
- Origem militar da polícia: A Polícia Militar, como concebida atualmente, foi criada em 1969, durante a ditadura militar. Seu objetivo era combater "inimigos internos", o que moldou sua estrutura e cultura como mini-exércitos estaduais.
- Persistência do modelo militarizado: Mesmo após a redemocratização, essa estrutura permaneceu, consolidando um sistema que vê parte da população como inimiga. Dados e relatos indicam que as abordagens variam dependendo do local e do perfil social, reforçando preconceitos e racismo estrutural.
Casos recentes de violência
Adilson Paes de Souza destaca episódios alarmantes que ilustram a brutalidade policial em São Paulo:
- Jovem jogado de uma ponte por um policial.
- Homem morto com 11 tiros nas costas após roubo em um mercado.
- Invasão policial em um velório com agressão a familiares.
Esses eventos refletem um ambiente onde os policiais sentem-se amparados por discursos e políticas públicas que, segundo Souza, incentivam implicitamente a letalidade.
Incentivos políticos à violência
- Busca por votos: Souza aponta que tanto políticos de esquerda quanto de direita apoiam práticas policiais violentas por sua popularidade entre eleitores, perpetuando um modelo falho.
- Exemplos recentes: A aprovação da Lei Orgânica das Polícias Militares com apoio do governo Lula exemplifica esse cenário. A lei ampliou a militarização e reduziu o controle da sociedade, sendo criticada por especialistas como um retrocesso em relação às normas anteriores.
Impactos psicológicos nos policiais
Além da violência externa, Souza analisa o impacto emocional sobre os próprios agentes da lei:
- Adoecimento mental: A cultura de negação do sofrimento psicológico entre policiais cria uma dualidade opressiva. Muitos sofrem com a pressão para agir de forma letal, resultando em adoecimento mental e comportamentos extremos.
- Projeção do sofrimento: Souza sugere que, ao agirem violentamente, alguns policiais projetam seu sofrimento interno em suas vítimas.
Soluções e perspectivas
- Desmilitarização: Souza defende a necessidade de desmilitarizar não apenas a polícia, mas todo o sistema de segurança criminal para romper com o ciclo de violência.
- Psicologia no treinamento: Ele sugere integrar estudos psicológicos no treinamento policial, abordando as causas e os impactos da letalidade.
- Fortalecimento do controle social: É essencial criar instâncias mais robustas de fiscalização e cobrança para evitar abusos.
A violência policial no Brasil não é apenas um reflexo de decisões individuais, mas um produto de estruturas históricas, políticas e culturais que necessitam de reformas profundas. O apoio tácito ou explícito de governantes de diferentes espectros políticos perpetua um ciclo de letalidade que afeta tanto as vítimas quanto os próprios policiais. A solução passa por mudanças sistêmicas, começando pela desmilitarização, inclusão de abordagens psicológicas e fortalecimento do controle social. Sem isso, segundo Souza, o cenário atual tende a piorar, agravando ainda mais uma crise já alarmante.