Teoria da substituição: Racismo, xenofobia e os perigos das teorias de conspiração no debate político dos EUA
Durante debates presidenciais nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump insinuou que imigrantes ilegais estariam entrando no país em massa para votar nas eleições. Embora não haja evidências que sustentem essa afirmação, essa narrativa está ligada a uma teoria da conspiração maior: a Teoria da Grande Substituição.
O Que é a Teoria da grande substituição?
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A Teoria da Grande Substituição propaga a ideia de que elites políticas estão promovendo a imigração em massa para substituir a população nativa branca por imigrantes não brancos. Segundo essa narrativa, o objetivo seria obter vantagens políticas, como se manter no poder ao trazer novos eleitores que apoiariam suas ideologias.
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A origem dessa teoria é atribuída ao autor francês Renaud Camus, que publicou obras entre 2010 e 2011, onde argumenta que a cultura e a demografia europeias estariam sendo intencionalmente alteradas. Embora as obras de Camus inicialmente não tenham sido traduzidas para o inglês, elas foram adotadas por grupos supremacistas brancos nos EUA e influenciaram eventos de grande repercussão.
Contexto histórico
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A teoria, no entanto, não é completamente nova. Ideias semelhantes circulam na direita radical desde as décadas de 1980 e 1990. Além disso, nos Estados Unidos, noções de racismo e xenofobia datam de muito antes. Benjamin Franklin, em 1750, já expressava desdém por imigrantes holandeses. No início do século 20, essas ideias ressurgiram por meio de Madison Grant, advogado eugenista que defendia a superioridade racial branca.
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Na era moderna, uma das obras mais influentes ligadas à teoria é O Diário de Turner, um romance escrito por William Luther Pierce, que descreve uma revolução violenta e uma guerra racial nos EUA. Essas noções de "poder branco" e "supremacia branca" são fundamentais para o desenvolvimento da Teoria da Grande Substituição.
Supremacismo e Racismo
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A Teoria da Grande Substituição tem raízes profundas no racismo, xenofobia e antissemitismo. A ideia central de que elites políticas — muitas vezes apontadas como judeus — estariam promovendo essa substituição, alimenta teorias da conspiração antigas e nocivas. Nos EUA, a população afro-americana e os imigrantes latino-americanos são frequentemente os alvos dessa narrativa, com a acusação de que estão "roubando empregos" e "mudando a cultura" de regiões.
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Na Europa, o grupo externo frequentemente mencionado são os muçulmanos. Grupos de extrema direita frequentemente os acusam de estarem "islamizando" o continente, levando a ataques racistas e manifestações violentas.
Impacto na política atual
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Nos Estados Unidos, essa teoria é promovida por figuras influentes, como Tucker Carlson, apresentador da Fox News, e políticos republicanos como J.D. Vance. O próprio Donald Trump, embora não mencione diretamente a teoria, usa linguagem semelhante ao falar sobre uma "invasão de imigrantes". Isso reflete uma estratégia para gerar medo entre os eleitores e mobilizar as alas mais conservadoras.
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Estudos indicam que essa narrativa está ganhando força. Uma pesquisa da Universidade de Miami revelou que um terço dos americanos acredita que as elites estão intencionalmente substituindo a população branca. Essa crença está relacionada a sentimentos antissociais e nacionalistas, além de rejeição a imigrantes, minorias e mulheres.
Violência e consequências
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A propagação dessa teoria tem consequências perigosas. Acredita-se que os autores de dois massacres — em Christchurch, Nova Zelândia (2019) e Charleston, EUA (2015) — eram seguidores dessa ideologia. Em ambos os casos, os supremacistas brancos atacaram minorias em locais religiosos, matando dezenas de pessoas.
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Essa violência está intrinsecamente ligada à crença de que a população branca está sendo substituída e que medidas extremas são necessárias para "defender" a raça.
A Teoria da Grande Substituição é um perigoso mito que manipula ansiedades sobre imigração e mudanças demográficas. Promovida por figuras influentes, essa teoria fortalece o racismo, a xenofobia e o antissemitismo, gerando consequências reais, como violência e segregação social. Embora sem evidências, a teoria continua a influenciar o debate político, especialmente nos EUA, onde a questão da imigração é constantemente usada para manipular eleitores.
Essa narrativa destaca o perigo de teorias da conspiração e como elas podem impactar profundamente a sociedade, alimentando divisões e ódio.