Atraso na regulamentação das apostas online no Brasil: Uma questão de saúde pública
Com a legalização das apostas esportivas no Brasil através da Lei nº 13.576/2018
, o setor de apostas online passou quase seis anos operando sem regulamentação. Este atraso gerou um mercado descontrolado, que cresce rapidamente e já é visto como uma questão de saúde pública. A sanção da Lei 14.790/2023
, em um esforço para regularizar o setor, veio tarde demais para lidar com os desafios sociais e econômicos, especialmente em relação ao aumento dos casos de abuso e adição.
Importância e relevância
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Acesso descontrolado: O avanço tecnológico e o fácil acesso à internet criaram um ambiente onde as apostas estão disponíveis 24 horas por dia, sem barreiras físicas ou temporais.
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Expansão de produtos: Plataformas de apostas agora oferecem mais que apostas esportivas. Elas incluem jogos de cassino online e modalidades como o "crash game", que simulam o mercado financeiro e são altamente aditivas.
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Crescimento exponencial: De 2022 para 2023, o mercado de apostas online cresceu 135%, movimentando mais de R$ 20 bilhões por mês no Brasil.
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Ludopatia como problema de saúde pública: A ludopatia, ou transtorno do jogo, está se tornando uma preocupação crescente, com impactos significativos na saúde mental e financeira dos apostadores, além de um alto índice de ideação suicida.
Desafios enfrentados
Publicidade intensa: Empresas de apostas investem pesado em publicidade digital e parcerias com influenciadores, promovendo uma normalização das apostas no cotidiano.
Ausência de supervisão adequada: Apesar da nova lei, ainda faltam políticas públicas eficazes para prevenir a ludopatia e dar suporte a jogadores compulsivos.
Falta de mecanismos de autoexclusão global: O Brasil ainda não possui um sistema unificado como o GAMSTOP do Reino Unido, que permita aos usuários se autoexcluírem de todas as plataformas de apostas simultaneamente.
Impactos na sociedade
A facilidade de apostar online e a falta de regulamentação adequada levaram à criação de um ambiente altamente propício ao vício, com sérias consequências para os indivíduos afetados:
- Saúde mental: A ludopatia é classificada como transtorno mental, com padrões semelhantes a vícios em substâncias.
- Impacto financeiro: Jogadores compulsivos frequentemente acumulam dívidas significativas, enfrentando rupturas familiares.
- Consequências legais: A falta de regulamentação favorece o crescimento de sites clandestinos, fora do controle governamental.
Propostas de solução
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Regulamentação rigorosa: O Brasil precisa de uma regulamentação mais rígida, que inclua não só aspectos econômicos e tributários, mas também medidas de saúde pública voltadas para a prevenção e tratamento da ludopatia.
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Educação e conscientização: Programas de conscientização nas escolas e para grupos de risco, como jovens e pessoas com dificuldades financeiras, são essenciais para evitar o agravamento dos problemas relacionados ao jogo.
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Mecanismo unificado de autoexclusão: A criação de um sistema nacional de autoexclusão de plataformas de apostas ajudaria a mitigar os riscos para indivíduos vulneráveis.
O atraso na regulamentação das apostas online no Brasil transformou o setor em um problema de saúde pública, com implicações graves para a sociedade. Para enfrentar esse desafio, o governo precisa implementar regulamentações mais rígidas e direcionar parte da arrecadação para programas de prevenção e tratamento da ludopatia. A combinação de políticas públicas robustas, educação e mecanismos de controle é crucial para proteger a população e regular um mercado que, atualmente, opera sem as devidas restrições.