Descobri que sou psicopata: O que fazer e como entender? - O fascinante relato de Jim Fallon
O professor Jim Fallon, neurocientista da Universidade da Califórnia-Irvine, jamais imaginou que ele próprio pudesse ser um psicopata. Sua descoberta veio durante uma análise de imagens cerebrais em um estudo sobre psicopatia que ele conduzia. Utilizando membros da sua própria família como grupo de controle, Fallon se deparou com uma imagem incomum e perturbadora — e a surpresa foi maior ao perceber que se tratava do seu próprio cérebro. A seguir, exploraremos como ele lidou com essa revelação e o que isso significou para ele em termos pessoais e científicos.
A inusitada descoberta no laboratório
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Em meio à sua pesquisa, Fallon observava imagens de cérebros de assassinos, buscando padrões de psicopatia. Ele não esperava encontrar sinais da condição em alguém fora desse grupo, especialmente em si mesmo. Ao ver uma imagem que descreveu como “patológica”, pensou que fosse uma brincadeira dos técnicos. Mas, para seu choque, ao remover o rótulo de identificação do exame, percebeu que aquele padrão perturbador pertencia a ele.
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Ao compreender que possuía um dos mais claros sinais de psicopatia que já havia visto, Fallon começou a questionar as complexidades da condição. Afinal, ele nunca havia cometido crimes violentos e se considerava uma "boa pessoa". Isso o levou a investigar uma forma menos conhecida da condição, a qual ele denomina “psicopatia prosocial”. Diferente de muitos psicopatas que expressam comportamentos antissociais e violentos, Fallon apresentava características psicopatas, mas sem a inclinação para cometer atos criminais.
Psicopatia: Nascida ou formada?
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A descoberta do professor Fallon reacendeu um antigo debate na neurociência: a psicopatia é uma condição determinada pela genética ou moldada pelo ambiente em que a pessoa cresce? Fallon explica que o cérebro de pessoas com essa condição, especialmente psicopatas violentos, possui menos matéria cinzenta nas áreas frontais, que são responsáveis pela compreensão das emoções e do comportamento moral. Essas áreas também têm uma relação direta com a amídala, associada ao medo e às respostas emocionais, que tende a ser menor em cérebros de psicopatas.
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Essas observações sugerem que o cérebro de um psicopata pode, de fato, se desenvolver de maneira diferente. Contudo, Fallon aponta que é possível que essas áreas cerebrais não estejam sendo "exercitadas", como músculos que perdem força por falta de uso. Nesse caso, o desenvolvimento dessas partes pode depender tanto da genética quanto do ambiente em que a pessoa foi criada.
Um histórico familiar sombrio
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Movido pela descoberta, Fallon começou a investigar o histórico da sua família. Logo percebeu que suas características não eram exclusivas: ele vem de uma linhagem marcada por assassinatos. Em sua árvore genealógica, sete parentes foram acusados de homicídio, entre eles a famosa Lizzie Borden, acusada de assassinar o pai e a madrasta a machadadas em 1882. Embora tenha sido absolvida, o caso se tornou uma lenda sombria.
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Outro parente, seu quinto avô, foi o primeiro homem a ser acusado de matar a própria mãe nas colônias americanas, no século XVII. Essa herança familiar levantou a possibilidade de que Fallon possua uma predisposição genética para a psicopatia. Contudo, a história não termina aí, pois a psicopatia pode ser influenciada pelo ambiente e pelas experiências de vida.
A influência da infância: Natureza ou criação?
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Fallon acredita que a infância desempenha um papel fundamental na ativação dos genes relacionados à psicopatia. Em suas palavras, a infância “incrivelmente maravilhosa” que teve pode ter neutralizado os efeitos negativos de seus genes. Ele explica que, embora uma pessoa possa carregar o gene da psicopatia, os fatores externos, como traumas e abuso na infância, influenciam se esse gene se manifestará em comportamentos violentos. Em outras palavras, uma infância sem traumas graves pode compensar tendências genéticas perigosas.
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Assim, enquanto sua genética pode indicar uma predisposição à psicopatia, o ambiente acolhedor e positivo em que ele cresceu parece ter prevenido o desenvolvimento de comportamentos agressivos. Isso sugere que mesmo genes associados a comportamentos violentos podem ser contornados por uma infância saudável e segura.
O psicopata "Prosocial": Um novo olhar sobre a condição
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Fallon acredita que a psicopatia, ao contrário do que muitos pensam, não se resume apenas a atos violentos. Ele descreve a si mesmo como alguém que possui alta empatia cognitiva — ou seja, a capacidade de entender as emoções dos outros — mas baixa empatia emocional, que é a capacidade de sentir junto com as outras pessoas. Para ele, essa “empatia fria” é útil, pois permite que ele aconselhe amigos e familiares com uma perspectiva lógica e objetiva, mas sem a profundidade emocional. Muitas vezes, essa falta de envolvimento emocional é vantajosa, pois evita decisões impulsivas.
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Ele nota que, embora possa ser visto como “desapegado”, essa visão prática dos problemas das pessoas ao seu redor o torna alguém a quem amigos e familiares recorrem para conselhos racionais. Para Fallon, esse lado da psicopatia pode ser útil à sociedade, pois permite que pessoas como ele se dediquem a ajudar os outros de forma prática e objetiva.
A história de Jim Fallon oferece uma nova perspectiva sobre a psicopatia, destacando que essa condição não é necessariamente uma condenação ao comportamento criminoso. O relato sugere que, enquanto a genética pode desempenhar um papel importante na predisposição à psicopatia, o ambiente em que a pessoa cresce é igualmente relevante. A infância de Fallon parece ter evitado que seus genes de alto risco resultassem em um comportamento violento, mostrando que fatores ambientais podem mitigar o impacto de predisposições genéticas.
Com sua combinação de autoconhecimento e aceitação, Fallon desafia a visão simplista da psicopatia como algo puramente destrutivo. Sua experiência indica que a condição pode ser compreendida em termos mais complexos, onde psicopatas “prosociais” contribuem positivamente para a sociedade ao oferecer conselhos racionais e ajuda prática. Isso enfatiza a importância de uma abordagem mais compreensiva e informada sobre a psicopatia, ajudando a desmistificar preconceitos e permitindo que indivíduos com essa condição possam ter uma vida produtiva e positiva.