Dopamina e a busca desenfreada por estímulos: Por que isso nos torna cada vez mais insatisfeitos?
Vivemos em uma era de estímulos constantes: redes sociais, compras impulsivas, fast food, videogames, consumo excessivo de notícias e muito mais. O problema? Essa busca incessante por prazer imediato pode estar nos tornando menos satisfeitos e até infelizes.
A psiquiatra Anna Lembke, especialista em vícios da Universidade Stanford, explora esse fenômeno no livro Nação Dopamina: Por que o Excesso de Prazer Está Nos Deixando Infelizes e o que Podemos Fazer para Mudar. Para entender melhor, precisamos saber como funciona a dopamina e como seu excesso pode ser prejudicial.
O Que é a dopamina e como ela funciona?
Dopamina não é um "hormônio do prazer"
- Muitas pessoas acreditam que a dopamina é a substância responsável pelo prazer. Na verdade, ela está mais associada à motivação e ao sistema de recompensa do cérebro. Quando realizamos uma atividade prazerosa, como comer algo gostoso ou receber curtidas nas redes sociais, a dopamina é liberada, incentivando-nos a repetir a ação.
A dopamina nos ajudou a sobreviver
- Ao longo da evolução humana, a dopamina teve um papel essencial: fazer com que buscássemos comida, segurança e reprodução. Nosso cérebro se desenvolveu para evitar a dor e buscar prazer, garantindo nossa sobrevivência.
Como a dopamina age no cérebro?
Pesquisas mostraram como diferentes atividades aumentam os níveis de dopamina em ratos:
- Chocolate →
+55%
- Sexo →
+100%
- Nicotina →
+150%
- Cocaína →
+225%
- Anfetaminas →
+1.000%
Isso significa que certos estímulos artificiais podem elevar drasticamente nossos níveis de
dopamina, mas o problema é que nosso cérebro tenta sempre equilibrar esse aumento.
O problema do excesso de dopamina
A descida após o pico
Após um aumento intenso de dopamina, o cérebro reduz seus níveis para tentar manter o equilíbrio, muitas vezes caindo abaixo do normal. Isso gera sintomas como:
- Ansiedade
- Irritabilidade
- Depressão
- Necessidade de repetir a atividade para recuperar o prazer
Tolerância e dependência
Quanto mais repetimos uma atividade que libera dopamina, maior a quantidade necessária para sentir o mesmo prazer. Isso cria um ciclo vicioso que pode levar a vícios em substâncias ou comportamentos.
O mundo moderno e a dopamina
A tecnologia e o acesso fácil a estímulos fazem com que quase tudo tenha o potencial de viciar. Alguns exemplos são:
- Redes sociais → Curtidas e notificações ativam o sistema de recompensa.
- Notícias chocantes → Precisamos de eventos cada vez mais intensos para nos impactar.
- Compras online → O ato de comprar libera dopamina, mas o efeito é passageiro.
- Comida ultraprocessada → O alto teor de açúcar e gordura nos faz querer comer mais e mais.
O preço de evitar o desconforto
Queremos evitar qualquer dor
A sociedade atual prega que devemos evitar qualquer desconforto: seja físico, emocional ou psicológico. Isso é um problema porque nos priva de experiências que nos fortalecem.
Exemplo do banho gelado
Lembke sugere que pequenas doses de desconforto podem ser benéficas. Banhos frios, por exemplo, têm benefícios como melhorar a circulação e reduzir sintomas de depressão.
O impacto na educação das crianças
Muitos pais evitam que os filhos enfrentem dificuldades, o que pode prejudicar seu desenvolvimento emocional e sua resiliência. Experiências desafiadoras são fundamentais para criar adultos fortes e preparados para a vida.
Como retomar o controle?
A psiquiatra sugere algumas estratégias para equilibrar a dopamina e evitar a armadilha da insatisfação constante:
1.
Reduzir o consumo excessivo de estímulos → Evitar redes sociais, jogos e compras impulsivas pode ajudar a restaurar o equilíbrio natural da dopamina.
2.
Aceitar o tédio e o desconforto → Nem sempre precisamos de distração. Permitir momentos de tédio pode fortalecer a mente.
3,
Praticar atividades sem recompensa imediata → Exercícios físicos, leitura e meditação ajudam a criar prazer sem excessos de dopamina.
4.
Regular o uso de medicamentos → A busca por soluções rápidas, como remédios para ansiedade, pode mascarar problemas e criar novas dependências.
A busca incessante por estímulos prazerosos pode nos aprisionar em um ciclo de dependência e insatisfação, tornando cada vez mais difícil encontrar satisfação genuína. A dopamina, que deveria ser um motivador natural, acaba sendo explorada por hábitos modernos que nos mantêm constantemente em busca de mais prazer, mas com efeitos cada vez menores. O verdadeiro desafio está em restaurar o equilíbrio entre prazer e desconforto, permitindo que momentos de tédio e desafios fortaleçam nossa resiliência. Pequenas mudanças, como reduzir o consumo excessivo de estímulos artificiais e valorizar o presente, podem ser a chave para uma vida mais equilibrada e plena.