Por que sentimos vontade de comer doces após as refeições? Estudo revela explicação neurológica
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Muitas pessoas sentem uma vontade irresistível de comer um doce logo após a refeição. Esse desejo pode parecer apenas um hábito ou uma preferência pessoal, mas um novo estudo publicado na revista Science sugere que a explicação está no nosso cérebro. Pesquisadores do Instituto Max Planck de Biologia do Envelhecimento, na Alemanha, descobriram que certos neurônios são responsáveis por essa atração pelo açúcar, mesmo quando já estamos satisfeitos.
A seguir, vamos entender como isso acontece e o que essa descoberta pode significar para nossa alimentação e saúde.
O cérebro influencia o desejo por doces?
Sim. O estudo demonstrou que nosso desejo por açúcar não é apenas psicológico ou cultural, mas tem raízes biológicas e neurológicas.
- Os pesquisadores identificaram neurônios específicos que estimulam a vontade de comer doces.
- Esses neurônios fazem parte do grupo POMC, que atua no controle do apetite e na sensação de prazer ao comer.
- Eles são ativados somente com o açúcar, e não com alimentos salgados ou gordurosos.
Isso significa que nosso próprio corpo está programado para buscar doces, e isso pode ter relação com a evolução humana.
Como os neurônios POMC funcionam?
Os cientistas começaram a pesquisa testando camundongos e descobriram que os neurônios POMC são ativados assim que o animal ingere açúcar. Esse processo desencadeia uma série de reações no cérebro:
- Ativação imediata ao contato com o açúcar: Assim que os camundongos provaram o doce, os neurônios começaram a agir.
- Liberação de endorfina: Esses neurônios estimulam a produção de endorfina, uma substância que gera sensação de prazer e recompensa.
- Desejo contínuo por açúcar: Mesmo após estarem saciados, os camundongos continuavam a comer doces, pois sentiam prazer ao consumi-los.
- Nenhuma reação a outros alimentos: Alimentos salgados ou gordurosos não ativaram esse mecanismo, reforçando a ideia de que o desejo por açúcar tem um gatilho específico no cérebro.
Os cientistas foram além e bloquearam a ativação dos neurônios POMC. O resultado? Os camundongos simplesmente pararam de buscar o açúcar, provando que esses neurônios são essenciais para esse desejo.
E os humanos? Também sentimos essa ativação cerebral?
Para descobrir se esse mecanismo também ocorre em humanos, os pesquisadores fizeram exames cerebrais em voluntários que receberam uma solução de açúcar diretamente no estômago.
Os resultados mostraram que:
1.
A mesma região do cérebro foi ativada nos humanos e nos camundongos.
2.
Há grande quantidade de receptores de opioides naturais nessa área do cérebro, o que reforça a ligação entre açúcar e prazer.
Segundo o líder do estudo, Henning Fenselau, isso faz sentido do ponto de vista evolutivo. O açúcar sempre foi um recurso raro na natureza, mas uma fonte rápida de energia, então nosso cérebro foi programado para aproveitá-lo sempre que disponível.
O que essa descoberta significa para nossa alimentação?
O fato de que o desejo por açúcar tem uma base neurológica pode ajudar no desenvolvimento de novas estratégias para controlar o consumo excessivo de doces e combater a obesidade.
- Atualmente, já existem medicamentos que bloqueiam os receptores opiáceos no cérebro, mas a perda de peso associada a eles ainda é limitada.
- Os pesquisadores acreditam que combinar esses bloqueadores com outros tratamentos, como inibidores de apetite, pode trazer resultados melhores.
- No entanto, ainda são necessários mais estudos para entender completamente como manipular esse mecanismo sem causar efeitos colaterais.
Estamos biologicamente programados para gostar de doces
- Este estudo reforça a ideia de que nosso desejo por açúcar não é apenas uma questão de costume ou vontade, mas sim um reflexo da nossa própria biologia.
- Os neurônios POMC desempenham um papel importante no apetite por doces e liberam substâncias que nos fazem querer mais açúcar, mesmo quando já estamos saciados. Isso explica por que tantas pessoas sentem uma necessidade quase automática de comer sobremesas.
Além de trazer uma nova compreensão sobre nossos hábitos alimentares, essa descoberta pode abrir caminhos para novas abordagens no tratamento da obesidade e do consumo excessivo de açúcar. Mas, até que terapias mais eficazes sejam desenvolvidas, a moderação e a consciência alimentar continuam sendo as melhores estratégias para evitar excessos.