Animais sentem ciúmes ou apenas frustração? Confira o que dizem os novos estudos
A ideia de que animais sentem ciúmes, como os seres humanos, tem fascinado cientistas e leigos. Casos como os de macacos-prego que demonstram frustração ao receberem uma guloseima menos gostosa do que seus companheiros geraram discussões sobre a capacidade de algumas espécies experimentarem emoções similares às dos humanos. Porém, um novo estudo conduzido pela Universidade da Califórnia oferece uma interpretação mais cautelosa sobre esse comportamento, sugerindo que, na verdade, o que os animais demonstram pode ser uma reação a expectativas frustradas, e não uma manifestação de ciúmes ou inveja.
A pesquisa
- O estudo, publicado no periódico Proceedings of the Royal Society B no final de novembro de 2024, envolveu mais de 60.000 observações de 18 espécies animais. O objetivo era investigar a chamada "aversão à desigualdade", uma reação de frustração que ocorre quando um indivíduo percebe que está sendo tratado de maneira injusta em comparação com outros. A equipe de pesquisa, liderada pelo candidato a Ph.D. Oded Ritov, concluiu que, embora existam algumas evidências de comportamento frustrado entre os animais, isso não equivale a sentir ciúmes no sentido humano da palavra.
O estudo de Frans de Waal
- Um estudo anterior, conduzido pelo primatologista Frans de Waal, apresentou um famoso vídeo que viralizou, mostrando que dois macacos-prego se comportam normalmente quando recebem uma fatia de pepino, mas demonstram comportamentos agressivos e frustrados quando um deles recebe uma uva, enquanto o outro fica com o pepino. Este comportamento foi amplamente interpretado como uma demonstração de ciúmes, já que o macaco que não recebeu a uva parecia protestar contra o tratamento desigual. Contudo, o novo estudo sugere que a reação dos macacos não era uma resposta a um sentimento de "ciúmes" em relação ao outro, mas sim uma reação à expectativa criada pela recompensa.
Interpretação alternativa
- De acordo com Ritov, a reação dos macacos-prego, e possivelmente de outras espécies, pode ser vista mais como uma frustração por não receberem o tratamento esperado, não tanto por uma comparação com o que o outro recebeu. Os macacos se demonstraram indignados, até mesmo em situações onde não havia outro macaco para gerar uma comparação. Esse comportamento sugere que os animais protestavam não contra a diferença de tratamento em relação a outro indivíduo, mas contra o fato de não estarem recebendo o mesmo valor ou atenção que esperavam dos pesquisadores.
Implicações do estudo
- O estudo tem implicações importantes para a forma como interpretamos as emoções animais. Embora as evidências de frustração sejam claras, os pesquisadores alertam para a necessidade de uma abordagem cautelosa ao atribuir sentimentos humanos, como ciúmes ou inveja, aos animais. A reação dos macacos e outras espécies pode ser mais uma expressão de frustração ou de uma quebra de expectativa do que uma manifestação consciente de um desejo de igualar-se aos outros.
Vídeo: Two Monkeys Were Paid Unequally: Excerpt from Frans de Waal's TED Talk
Embora a pesquisa não descarte totalmente a ideia de que animais possam experimentar emoções similares às humanas, ela oferece uma nova perspectiva sobre o comportamento observado em diversas espécies. Em vez de focar em emoções complexas como o ciúmes, o estudo sugere que, muitas vezes, os animais reagem à frustração de maneira simples, baseada em expectativas não atendidas. Isso destaca a importância de interpretar os comportamentos animais com mais precisão e cautela, evitando atribuições antropomórficas que podem distorcer nossa compreensão sobre as emoções dos seres não-humanos.