O custo real da moda barata: A verdade por trás das blusinhas de R$ 30 da Shein
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A Shein se tornou uma das maiores marcas de fast fashion do mundo, conquistando consumidores com roupas extremamente baratas e lançamentos constantes. No entanto, uma investigação da BBC News revelou que por trás desses preços baixos há um custo oculto: condições de trabalho exaustivas, baixos salários e possíveis violações de direitos humanos.
A seguir, explicamos como funciona esse modelo de negócio e quais são os impactos para os trabalhadores, consumidores e o mercado global.
Como a Shein consegue vender roupas tão baratas?
O segredo do sucesso da Shein está no seu modelo de produção rápida e altamente flexível. A empresa não mantém grandes estoques e aposta na venda direta ao consumidor, eliminando intermediários. Além disso, os custos de fabricação são reduzidos ao máximo por meio de:
1.
Produção sob demanda: peças são fabricadas somente quando há alta procura, evitando desperdício.
2.
Mão de obra barata: trabalhadores são pagos por peça costurada, o que incentiva jornadas mais longas para aumentar a renda.
3.
Matérias-primas de baixo custo: muitas vezes, são utilizadas fibras sintéticas baratas, menos duráveis e de origem questionável.
4.
Frete internacional subsidiado: como as roupas vêm da China, a empresa aproveita benefícios postais para reduzir custos de envio.
Essa estratégia permitiu que a Shein superasse concorrentes tradicionais, como Zara e H&M, oferecendo preços muito mais baixos e um catálogo com centenas de milhares de produtos disponíveis.
Onde essas roupas são fabricadas?
A maior parte da produção da Shein acontece na China, especialmente no distrito de Panyu, na cidade de Guangzhou. Essa região se tornou um centro de fabricação conhecido como "Vila Shein", onde fábricas trabalham sem parar para atender à demanda global.
Segundo trabalhadores entrevistados pela BBC, as condições de trabalho são extremamente exigentes:
- Carga horária intensa: jornadas chegam a 75 horas semanais, muito acima do limite legal chinês de 44 horas.
- Descanso mínimo: alguns funcionários relataram que têm apenas um dia de folga por mês.
- Pagamentos por peça: costureiros ganham entre
R$ 1 e R$ 2
por camiseta produzida, o que os obriga a trabalhar mais para conseguir uma renda mínima.
Essas condições fazem com que os preços das roupas sejam reduzidos ao máximo, mas levantam questões sobre a exploração da mão de obra.
Salários e condições de trabalho
Relatórios de grupos de direitos humanos, como a Asia Floor Wage Alliance, apontam que os trabalhadores da Shein ganham muito menos do que o necessário para uma vida digna.
- Salário base: Cerca de
R$ 2.030
por mês, sem horas extras. - Salário ideal para a região: Estimado em
R$ 6.512
por mês para cobrir o custo de vida adequadamente. - Possível aumento de renda: Quem trabalha horas extras pode chegar a
R$ 8.500
, mas às custas de jornadas extenuantes.
Embora as fábricas não apresentem condições consideradas insalubres, a pressão para produzir rápido e em grande quantidade afeta a saúde física e mental dos trabalhadores.
Denúncias e polêmicas envolvendo a Shein
A empresa já foi alvo de diversas denúncias ao longo dos anos. Entre as principais acusações estão:
- Exploração da mão de obra: salários baixos, jornadas excessivas e falta de direitos trabalhistas básicos.
- Trabalho infantil: em 2024, a Shein admitiu ter encontrado casos de menores de idade em sua cadeia de produção.
- Uso de matérias-primas de origem duvidosa: a empresa foi acusada de comprar algodão de Xinjiang, região chinesa onde há relatos de trabalho forçado da minoria uigur.
- Falta de transparência: apesar das críticas, a Shein não revela publicamente detalhes sobre seus fornecedores.
A pressão internacional para que a empresa adote práticas mais éticas está aumentando, especialmente com a possibilidade de abrir capital na Bolsa de Valores de Londres.
Como esse modelo afeta o mercado global?
O crescimento da Shein criou um novo padrão no setor da moda, trazendo desafios para concorrentes e para reguladores. Alguns dos principais impactos incluem:
- Concorrência desleal: marcas tradicionais não conseguem competir com preços tão baixos sem cortar custos ou reduzir a qualidade.
- Trabalho precarizado: empresas menores são forçadas a adotar práticas semelhantes para sobreviver.
- Consumo exagerado: roupas baratas incentivam compras impulsivas, aumentando o descarte e o impacto ambiental.
Países como os Estados Unidos e a União Europeia já estudam impor regulamentações mais rígidas para limitar as práticas da Shein e outras empresas que seguem o mesmo modelo.
Vale a pena comprar da Shein?
- O baixo custo das roupas da Shein tem um preço alto para os trabalhadores que as produzem. A empresa se tornou um símbolo do fast fashion extremo, onde a busca por preços baixos pode resultar em exploração e impactos negativos no mercado global.
Se a Shein quiser continuar crescendo de forma sustentável, precisará se adaptar a padrões trabalhistas mais justos e transparentes. Enquanto isso, os consumidores podem refletir sobre o impacto de suas escolhas e buscar alternativas que equilibrem preço, qualidade e responsabilidade social.