O poder do Minecraft: Por que esse jogo educa, vicia e fascina as crianças?

Minecraft, o jogo de computador mais vendido do mundo, conquistou milhões de crianças e adultos desde seu lançamento em 2009. Com mais de 300 milhões de cópias vendidas até 2023, ele transcendeu os games e chegou aos cinemas com "Um Filme Minecraft". Mas o que torna esse jogo tão cativante para as crianças? A resposta está em uma combinação de fatores psicológicos, evolutivos e sociais, que transformam o Minecraft em mais do que um simples passatempo.
O instinto natural de construção
Desde cedo, as crianças demonstram fascínio por construir — seja com blocos de madeira, Lego ou castelos de areia. Minecraft é uma extensão digital desse impulso, oferecendo blocos virtuais infinitos para criar mundos inteiros.
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Base evolutiva: Peter Gray, psicólogo do Boston College, explica que os mamíferos brincam para desenvolver habilidades essenciais à sobrevivência. Para os humanos, a construção é fundamental, desde ferramentas até abrigos.
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Preparação para a vida adulta: Brincadeiras criativas, como as do Minecraft, preparam as crianças para desafios futuros, incentivando planejamento e resolução de problemas.
Liberdade e criatividade no ambiente sandbox
Minecraft se destaca por ser um jogo "sandbox", onde não há objetivos rígidos, permitindo que os jogadores explorem sua criatividade sem limites.
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Facilidade de uso: Julian Togelius, cientista da computação da Universidade de Nova York, destaca que construir no Minecraft é mais intuitivo do que programar, tornando-o acessível até para crianças pequenas.
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Expressão pessoal: Um estudo de Togelius revelou que o comportamento no jogo reflete traços de personalidade. Por exemplo, jogadores independentes ignoram missões principais, enquanto aqueles com fortes valores familiares constroem casas detalhadas.
O aspecto social e a diversidade de experiências
Além da construção, o Minecraft oferece interação social e múltiplas formas de jogar, como o modo "sobrevivência" (com desafios e inimigos) ou a colaboração em projetos.
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Playground virtual: Para muitas crianças, como as do americano AJ Minotti, o jogo é um espaço para se conectar com amigos e primos, especialmente quando o contato presencial é limitado.
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Cinco pilares do apelo psicológico: A psicóloga Bailey Brashears identificou que o Minecraft atende a necessidades como
socialização, competência (através de combates), engenharia, criatividade e sobrevivência
— raramente encontradas juntas em outros jogos.
Preocupações e equilíbrio
Apesar dos benefícios, o tempo excessivo diante das telas preocupa pais e especialistas.
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Riscos online: Casos de aliciamento e abuso em plataformas como Minecraft levaram a NSPCC (Reino Unido) a publicar orientações sobre segurança digital.
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Desigualdade de gênero: Um estudo australiano mostrou que apenas 32% das meninas de 3 a 12 anos jogam Minecraft, contra 54% dos meninos, destacando a necessidade de inclusão no mundo digital.
Minecraft como ferramenta educacional
Escolas e universidades têm aproveitado o jogo para engajar alunos.
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Aprendizado imersivo: Durante a pandemia, professores usaram o "Minecraft Education" para ensinar desde gaélico até matemática, aproveitando o "estado de flow" (concentração profunda) que o jogo proporciona.
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Habilidades desenvolvidas: Pesquisas mostram que o Minecraft melhora motivação, trabalho em equipe e pensamento crítico, tornando-o uma ferramenta pedagógica valiosa.
Minecraft vai além de um jogo: é um reflexo digital do instinto humano de criar, explorar e se conectar. Seu sucesso entre as crianças está enraizado em necessidades psicológicas e evolutivas, desde a expressão criativa até a preparação para o mundo adulto. Embora exija cuidados com o tempo de tela e a segurança online, seu potencial educativo e social é inegável. Como resume AJ Minotti, é como "ter todas as peças de Lego do mundo" — sem ocupar espaço físico. Para muitas crianças, Minecraft não é apenas diversão; é um universo de possibilidades.