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sábado, 14 de setembro de 2024 às 10:40 GMT+0

Peixes têm sentimentos? A ciência está mais perto de responder

A questão de se os peixes possuem sentimentos e sensações, como dor, tem intrigado cientistas e a sociedade. Nos últimos anos, várias pesquisas trouxeram à tona evidências que desafiam a visão tradicional de que os peixes seriam criaturas simples, sem emoções ou consciência. Este resumo explora esses estudos e suas implicações.

O teste de autoconsciência nos peixes

  • O teste de autorreconhecimento no espelho é uma experiência usada para avaliar se um animal é capaz de reconhecer a própria imagem. Esse teste foi aplicado em várias espécies, incluindo primatas e elefantes, que mostraram ser autoconscientes.

  • Recentemente, um estudo realizado com o bodião-limpador, um pequeno peixe tropical, revelou que ele também é capaz de se reconhecer em um espelho. Nesse experimento, cientistas anestesiaram alguns peixes e colocaram uma marca em suas gargantas. Quando os peixes foram colocados na frente de um espelho, tentaram remover a marca ao se esfregar em pedras, o que indicaria que eles perceberam a alteração em seu corpo. Este comportamento sugeriu uma autoconsciência visual semelhante à de animais mais complexos.

  • Porém, essa descoberta foi recebida com ceticismo. Muitos cientistas resistiram à ideia de que peixes poderiam ser autoconscientes, argumentando que o teste poderia estar quebrado ou não se aplicar a esses animais.

Peixes sentem dor?

  • A noção de que peixes sentem dor também é controversa. O conceito de dor está ligado à capacidade de um animal reagir a estímulos prejudiciais de forma emocional ou física. No entanto, devido à estrutura cerebral diferente dos peixes, alguns especialistas, como o zoólogo James Rose, argumentavam que os peixes não poderiam experimentar dor da mesma forma que mamíferos ou aves.

  • Entretanto, pesquisas mais recentes desafiaram essa visão. Lynne Sneddon, uma especialista em bem-estar animal, conduziu estudos sobre a truta arco-íris que mostraram que esses peixes apresentam comportamentos consistentes com a dor após serem injetados com veneno de abelha. As trutas foram observadas balançando de um lado para o outro e aumentando a frequência respiratória, indicando que estavam reagindo ao estímulo doloroso.

  • Essa evidência sugere que, embora os peixes não tenham a mesma estrutura cerebral dos humanos, podem ainda assim sentir algum tipo de dor, mesmo que de forma diferente.

Capacidade cognitiva e memória dos peixes

  • Outro mito comum sobre os peixes é de que possuem uma memória curta. No entanto, estudos como os de Culum Brown, ecologista da Universidade Macquarie, demonstram o contrário. Brown descobriu que tubarões, por exemplo, são animais inteligentes e com memória de longo prazo. Eles são capazes de aprender e reter informações por períodos prolongados, o que refuta a ideia popular de que os peixes são criaturas cognitivamente simples.

  • Culum Brown, destacou a importância de reconhecer a senciência dos peixes em meio ao crescente debate científico. Ele argumenta que os peixes devem ser tratados com o mesmo respeito e decência que outros animais, como vacas, gatos, cães e pássaros.

"Se eles têm a capacidade de sofrer e sentir coisas negativas, então temos a obrigação de impedir isso sempre que nos depararmos com isso"

  • Além disso, pesquisas apontam que algumas espécies de peixes formam relacionamentos sociais complexos, sendo capazes de cooperar entre si e até aprender observando o comportamento de outros peixes. Essas descobertas sugerem que, ao contrário do que se pensava, os peixes têm habilidades cognitivas notáveis.

Implicações para a pesquisa científica

  • Os peixes são amplamente utilizados em pesquisas médicas e científicas, principalmente a espécie peixe-zebra. Mais de 5 milhões de peixes-zebra são usados anualmente em experimentos para estudar doenças humanas, genética e desenvolvimento de medicamentos. Essa espécie é favorecida por sua facilidade de manutenção e reprodução rápida.

  • No entanto, o crescente debate sobre a capacidade dos peixes de sentir dor e sua possível senciência levanta preocupações éticas sobre seu uso na ciência. Nick Ling, um ecologista de peixes, ressalta que é importante entender como os peixes percebem a dor, já que eles são frequentemente utilizados em grandes quantidades em experimentos.

  • Por outro lado, enquanto muitos cientistas aceitam que algumas espécies de peixes podem sentir dor, há uma necessidade de mais pesquisas para determinar como diferentes espécies reagem a estímulos dolorosos. Em espécies como os tubarões, por exemplo, ainda não se sabe ao certo se eles possuem a capacidade de sentir dor, pois faltam certos nervos específicos que em outros animais são responsáveis pela sensação dolorosa.

Implicações éticas e mudanças na legislação

  • A partir do momento em que a ciência avança na compreensão da senciência dos peixes, surgem questões sobre como eles devem ser tratados, tanto na pesquisa quanto na alimentação. Globalmente, os peixes são os animais mais consumidos, com até 2,2 trilhões de peixes capturados anualmente.

  • Algumas regiões, como a Nova Zelândia e o Território da Capital Australiana (ACT), já reconhecem legalmente a senciência dos peixes, estendendo a eles as proteções aplicadas a outros animais. No entanto, a maioria dos países ainda não oferece proteção legal a esses animais em larga escala, especialmente no contexto de pesquisas científicas.

  • Estudos sugerem que os peixes-zebra juvenis, amplamente usados em laboratórios, podem se tornar sencientes antes de atingir a idade adulta, levantando questões sobre o uso ético desses animais.

As evidências científicas estão desafiando o preconceito de que os peixes são seres simples e insensíveis. Pesquisas sobre sua capacidade de sentir dor, reconhecer a si mesmos e formar memórias sugerem que eles têm um nível de complexidade cognitiva e emocional que antes era desconhecido. Essa nova compreensão levanta importantes questões éticas, especialmente em relação ao uso de peixes em pesquisas e na indústria alimentícia. À medida que a ciência avança, será necessário reavaliar a forma como tratamos esses animais, considerando suas capacidades e direitos.

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