Por que o Rio Grande do Sul tem o maior percentual de adeptos de religiões de matriz africana no Brasil?
O Rio Grande do Sul (RS) é notável por ter o maior percentual de adeptos de religiões de matriz africana no Brasil, um dado que contrasta com a percepção comum de que o estado é predominantemente branco e católico. Este fenômeno pode ser explicado por uma combinação de fatores históricos, sociais e culturais.
Importância e Relevância
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Presença Histórica e Cultural: O Rio Grande do Sul possui uma longa história de influência africana que remonta ao período colonial. A participação significativa de africanos na economia local, especialmente no setor de charque, ajudou a moldar a cultura e a religiosidade da região.
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Demografia e Censo: Dados do Censo de 2010 mostraram que o RS tinha o maior percentual de adeptos de umbanda e candomblé no Brasil. Esse dado destaca a presença significativa dessas religiões no estado, apesar de sua população relativamente pequena de negros e pardos.
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Diversidade Religiosa: O estado é caracterizado por uma diversidade de práticas religiosas afro-brasileiras, incluindo batuque, umbanda e quimbanda, o que reflete uma rica herança cultural.
Fatores que Explicam o Fenômeno
1. História de Colonização e População
- Influência Africana: A economia do charque no século 19 foi sustentada pelo trabalho de africanos escravizados. As cidades como Porto Alegre tiveram uma grande presença de afrodescendentes desde sua fundação, com africanos compondo uma parte significativa da população nos primeiros anos.
- Política de Branqueamento: A colonização promovida pela Coroa Portuguesa e, posteriormente, pelo Império Brasileiro incluiu a imigração de europeus, como alemães e italianos, com o objetivo de "branquear" a população. No entanto, a presença africana continuou a influenciar a cultura local.
Liberdade de Culto
- Religiosidade Afro-Brasileira: A presença de colonos luteranos, que geralmente eram mais liberais em termos de culto, ajudou a estabelecer um ambiente onde as religiões de matriz africana puderam se desenvolver. O enfraquecimento da influência da Igreja Católica no estado contribuiu para a expansão dessas práticas religiosas.
Presença de Quilombos e Terreiros
- Comunidades Quilombolas: O Rio Grande do Sul tem um número notável de comunidades quilombolas e terreiros. Porto Alegre, por exemplo, abriga
11 quilombos urbanos
e cerca de1.290 terreiros
, o que demonstra a importância dessas práticas na vida urbana e rural. - Celebrações e Festas: Eventos como a Festa de Iemanjá na praia do Cassino, que atrai cerca de 300 mil pessoas, sublinham a relevância das religiões afro-brasileiras na cultura local.
O Rio Grande do Sul se destaca pela maior proporção de adeptos de religiões de matriz africana no Brasil devido à sua história de presença africana significativa, a liberalidade em termos de culto permitida por colonos europeus, e a continuidade de práticas religiosas afro-brasileiras. Apesar da percepção de um estado predominantemente branco, a realidade cultural e religiosa é rica e diversificada, refletindo uma herança africana que continua a influenciar a vida no estado.
Esse contexto histórico e cultural sublinha a importância de reconhecer e valorizar a diversidade religiosa e cultural em todas as regiões do Brasil, especialmente em contextos onde a presença e a influência de determinadas culturas podem ser subestimadas.