O mercado milionário da desinformação: Como comunidades conspiracionistas monetizam o movimento antivacina
A desinformação não apenas prejudica a saúde pública e gera desconfiança generalizada, mas também se tornou um modelo de negócio altamente lucrativo. Esse fenômeno, especialmente forte em comunidades conspiracionistas na América Latina e no Caribe, explora medos, inseguranças e falta de conhecimento para vender produtos falsos e perigosos. Confira, abaixo, como isso ocorre:
Redes de conspiração: Um mercado milionário
Dimensão do problema:
Um mapeamento de quase uma década no Telegram identificou cerca de 5 milhões de usuários em comunidades conspiracionistas. Somente no Brasil, são 2,5 milhões de participantes, representando 50% de toda a rede da América Latina e Caribe.
Conteúdo de desinformação:
As mensagens incluem desde teorias antivacinas até revisionismo histórico e propagação de ideologias extremistas.
Dados impactantes:
Mais de 55 milhões de mensagens foram analisadas, com conteúdos que geraram 21 bilhões de visualizações e mais de 310 milhões de compartilhamentos.
Principais narrativas conspiracionistas
“Detox vacinal” com dióxido de cloro (ClO₂):
Um dos destaques é o uso do dióxido de cloro, promovido como “cura milagrosa” para doenças como câncer, AIDS e autismo. A substância, altamente perigosa, é vendida como o "Mineral Miracle Solution" (MMS) e já rendeu mais de 643 milhões de visualizações.
Protocolos de “desparasitação” e produtos falsos:
Essas comunidades promovem produtos como prata coloidal, ouro coloidal, enemas e até supositórios para “eliminar vermes que causariam doenças”. Pais preocupados são alvos frequentes dessas práticas, com produtos específicos para crianças.
Falsificação de passaportes vacinais:
Com o aumento da desinformação, surge um mercado paralelo de passaportes vacinais falsos. Apenas no Brasil, 12 mil mensagens foram identificadas promovendo essa prática criminosa, alcançando milhões de pessoas.
Estratégias para lucrar com a vulnerabilidade
Exploração do medo:
A desinformação cria cenários alarmantes, como a falsa existência de microchips em vacinas ou a patologização do autismo, para gerar pânico.
Soluções falsas:
Após instigar o medo, as comunidades apresentam produtos e serviços como a “única verdade” capaz de resolver o problema.
Escalabilidade:
A estratégia é replicada de forma organizada, com links para compras, cursos e e-books ensinando como fabricar os produtos em casa.
Impactos econômicos e sociais
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Modelo de negócio lucrativo:
Quanto mais pessoas aderem ao movimento antivacina, maior é o lucro dessas redes. Isso fortalece um ciclo perigoso, onde recursos obtidos são reinvestidos para atrair novos membros. -
Danos à saúde pública:
A disseminação de desinformação mina campanhas de vacinação, coloca vidas em risco e dificulta o combate a doenças que poderiam ser prevenidas.
O papel das políticas públicas
Para desarticular esse mercado lucrativo e prejudicial, algumas medidas são fundamentais:
- Regulamentação de plataformas online: Regras mais rígidas para impedir a disseminação de desinformação.
- Fiscalização e punição: Aumentar o controle sobre a comercialização de produtos nocivos e rastrear redes que lucram com práticas criminosas.
- Educação midiática: Ensinar a população a identificar desinformação e evitar cair em golpes.
- Apoio à divulgação científica: Promover campanhas para combater crenças pseudocientíficas.
A desinformação não é apenas um problema de comunicação, mas um mercado que explora a vulnerabilidade e os medos das pessoas para lucrar. Entender a dimensão desse fenômeno é crucial para combatê-lo de forma eficaz. Mais do que nunca, é necessário agir com políticas públicas robustas, regulamentação das plataformas digitais e investimentos em educação e ciência para proteger a sociedade dos perigos da desinformação.