Como a alta dos juros impacta a economia brasileira e o bolso dos brasileiros
A decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de elevar a taxa básica Selic para 12,25% ao ano, na última reunião de 2024, reflete uma tentativa do Banco Central de conter a inflação e estabilizar a economia. Apesar dos esforços, essa estratégia possui efeitos profundos sobre diversos aspectos da vida econômica no Brasil.
O contexto econômico e a decisão do Copom
- Inflação e economia aquecida: A inflação acumulada em 12 meses até novembro foi de 4,87%, acima da meta de 3%. Esse quadro, somado ao baixo desemprego (7,5%) e incertezas fiscais, pressionou o Copom a adotar uma política monetária mais restritiva.
- Aumento gradual da Selic: Após dois anos de estabilidade, a taxa de juros foi elevada em setembro de 2024 (0,25%), seguida de mais dois aumentos expressivos, culminando no recente acréscimo de 1%.
Impactos no bolso dos brasileiros
- Inflação e custo de vida: Produtos essenciais, como alimentos, sofreram fortes aumentos. A carne, por exemplo, teve alta de 7,54% entre outubro e novembro. Esse cenário pressiona principalmente as famílias de baixa renda, cujos salários não acompanham o ritmo da inflação.
- Juros e acesso ao crédito: A elevação dos juros encarece empréstimos e financiamentos, reduzindo o consumo e impactando negativamente o crescimento econômico.
Consequências econômicas gerais
- Benefícios e desafios do controle da inflação: Juros altos ajudam a estabilizar preços, mas podem desacelerar a economia, aumentando o desemprego e dificultando a recuperação de setores produtivos.
- Renda fixa em alta: Investimentos atrelados ao Tesouro Direto e títulos IPCA+ tornaram-se atraentes, oferecendo rentabilidades reais superiores a 10%. Contudo, essa oportunidade é acessível principalmente para classes mais altas, ampliando a desigualdade.
Efeitos no mercado financeiro e nas empresas
- Fuga de investimentos da Bolsa: Com a atratividade da renda fixa, investidores migram recursos das ações para títulos públicos, afetando negativamente o mercado de capitais e as empresas listadas.
- Aumento nos custos empresariais: Empresas que dependem de crédito enfrentam maiores
O dólar e a economia brasileira
- Valorização recente e volatilidade: Desde o início do ano, o dólar subiu cerca de 20% frente ao real. Juros altos atraem investidores estrangeiros, ajudando a conter a alta do dólar, mas fatores externos, como a política monetária nos EUA, adicionam instabilidade.
- Efeitos no comércio internacional: A queda do dólar reduz os custos de importação, ajudando a conter a inflação de bens e insumos importados.
Desafios para o futuro
- Mudança na liderança do Banco Central: Com a saída de Roberto Campos Neto e a entrada de Gabriel Galípolo, indicado pelo presidente Lula, o mercado observará atentamente as mudanças na condução da política monetária.
- Cenário externo: O retorno de Donald Trump à presidência dos EUA e juros mais altos no mercado internacional podem reduzir a entrada de capitais no Brasil, dificultando ainda mais o equilíbrio econômico.
A alta dos juros no Brasil é um remédio necessário, mas com efeitos colaterais consideráveis. Ela ajuda a combater a inflação, mas desacelera o crescimento econômico, impacta as famílias de baixa renda e amplia desigualdades. No curto prazo, a estabilidade depende de como o governo administrará seu pacote fiscal e das estratégias do novo presidente do Banco Central. Já no cenário global, a política econômica dos EUA será crucial para determinar o comportamento do dólar e o fluxo de investimentos.
Esse equilíbrio entre inflação controlada e crescimento sustentável continua sendo o maior desafio da economia brasileira.