Hugo Motta entre o lulismo e o bolsonarismo: Estratégia ou jogo duplo no comando da Câmara?
O deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) assumiu a presidência da Câmara dos Deputados com apoio do governo Lula e do Centrão, mas suas primeiras declarações já geraram polêmica. Em uma recente entrevista, ele minimizou os ataques de 8 de janeiro de 2023, gerando expectativa entre bolsonaristas e preocupação no Palácio do Planalto. Afinal, qual será sua postura nos próximos meses?
As declarações polêmicas sobre o 8 de Janeiro
Poucos dias após assumir a presidência da Câmara, Motta declarou em uma entrevista para uma rádio da Paraíba que:
1.
Não considera os ataques de 8 de janeiro uma tentativa de golpe.
2.
Criticou as punições aplicadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) aos envolvidos.
3.
Disse que é necessário “reavaliar” as consequências do episódio.
Essas falas geraram duas reações opostas:
- Governo e apoiadores de Lula ficaram em alerta, temendo que a Câmara tente aprovar uma anistia aos condenados.
- Bolsonaristas viram na declaração um possível aliado dentro do Congresso.
- Apesar da expectativa da oposição, a aprovação da anistia enfrenta barreiras significativas.
O governo federal, o STF e boa parte da sociedade são contrários a essa medida. Segundo o Datafolha (dezembro de 2024):
- 62% da população rejeita a anistia.
- Apenas 33% apoiam perdoar os condenados.
Com essa rejeição popular, a tendência é que a anistia tenha poucas chances de ser aprovada, mas ainda assim, o tema deve continuar gerando debates na Câmara.
Estratégia de Hugo Motta: Jogo duplo ou moderação?
Hugo Motta não se declarou abertamente nem a favor do governo, nem da oposição, mas está claramente tentando equilibrar sua atuação política.
Ele defendeu a democracia e citou um filme sobre a ditadura militar em seu discurso de posse.
Encontrou-se com Lula no Palácio do Planalto e, depois, na Granja do Torto, mostrando que está disposto a dialogar com o governo.
- Ao mesmo tempo, fez acenos à oposição com falas sobre o 8 de janeiro, algo que agrada a base bolsonarista.
Essa postura tem explicação:
- Motta faz parte do Centrão, um grupo que tradicionalmente apoia o governo em troca de cargos e influência.
- Ao não se posicionar completamente de um lado, ele mantém margem de manobra para negociar vantagens políticas.
- Essa estratégia já foi usada por outros líderes do Centrão, como Arthur Lira, que manteve influência tanto com Bolsonaro quanto com Lula.
- Analistas políticos, como Creomar de Souza (Dharma Consultoria), acreditam que Motta usará sua posição para ampliar seu poder político, sem se comprometer totalmente com nenhum dos lados.
O impacto na agenda do Governo Lula
O novo presidente da Câmara assume em um momento delicado para o governo:
1.
A popularidade de Lula está em queda. Segundo o Datafolha (fevereiro de 2025), a aprovação do presidente caiu de 35% para 24%, enquanto a reprovação subiu de 34% para 41%.
2.
O governo precisa aprovar medidas importantes, como a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
3.
Com Hugo Motta no comando da Câmara, será mais difícil avançar com essa e outras propostas.
A relação entre Motta e o Planalto também dependerá da reforma ministerial que Lula pretende fazer para acomodar aliados do Centrão. Se o governo conseguir atender às demandas desse grupo, Motta pode acabar se aproximando mais da base governista.
Aposta na comunicação digital e o futuro político de Motta
Além das articulações políticas, Hugo Motta também está investindo em sua imagem pública.
- Sua equipe de comunicação, liderada pelo publicitário Chico Zaidan Mendez, tem apostado em vídeos curtos e explicativos para atrair seguidores nas redes sociais.
- Essa estratégia pode ajudar a aumentar sua projeção nacional, transformando-o em um nome forte para futuras disputas políticas.
- Segundo Lucas de Aragão (Arko Consultoria), políticos que conseguem se comunicar diretamente com o eleitorado ganham mais autonomia e poder de negociação dentro do Congresso.
Hugo Motta começou sua presidência na Câmara com um discurso de equilíbrio, mas já enfrenta pressões dos dois lados.
- Bolsonaristas esperam que ele atue em favor da anistia aos condenados pelo 8 de janeiro, enquanto
- O governo Lula teme que ele dificulte a aprovação de suas pautas.
- No entanto, até agora, Motta tem evitado compromissos claros e mantido a estratégia de negociar com ambos os lados. Sua postura dependerá de como a popularidade de Lula evoluirá e de como o Centrão será tratado pelo governo nos próximos meses.
O jogo político está apenas começando, e Hugo Motta, por enquanto, segue navegando entre dois mundos, sem escolher um lado definitivo.