Senado discute herança digital e direitos dos cônjuges: Entenda as mudanças no código civil

O senado está analisando um projeto que propõe mudanças significativas no código civil brasileiro, especialmente em relação às regras de herança. Duas alterações se destacam: a criação do conceito de "herança digital" e a revisão dos direitos hereditários de cônjuges e companheiros. Essas atualizações buscam adequar a legislação à realidade contemporânea, marcada pelo avanço tecnológico e por novas dinâmicas familiares.
Herança digital: O que é e por que é importante?
O projeto introduz pela primeira vez no brasil o conceito de "patrimônio digital", que inclui:
1.
Ativos financeiros digitais: Como criptomoedas, saldos em carteiras virtuais e milhas aéreas.
2.
Conteúdos pessoais e culturais: Perfis em redes sociais, e-mails, arquivos de fotos, vídeos e mensagens privadas.
3.
Bens virtuais: Como itens adquiridos em jogos online ou plataformas digitais.
Relevância da mudança:
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Atualização legal: Atualmente, a legislação não prevê a transmissão desses bens, o que pode levar à perda de patrimônio. Como explicou o relator flávio tartuce, sem uma lei específica, muitos direitos digitais "morrem" com o titular.
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Segurança jurídica: A proposta estabelece regras claras para o acesso a mensagens privadas póstumas, exigindo autorização judicial ou consentimento prévio do falecido.
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Proteção econômica e emocional: Familiares poderão preservar memórias digitais ou recuperar recursos financeiros vinculados a plataformas online.
Mudanças nos direitos hereditários dos cônjuges
O projeto altera a ordem de herança, removendo cônjuges e companheiros da categoria de "herdeiros necessários" (que inclui apenas filhos e pais). No entanto, eles permanecem como herdeiros em terceira prioridade, após descendentes e ascendentes.
Principais impactos:
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Fim do direito a bens particulares: Cônjuges não herdarão mais bens adquiridos pelo parceiro antes do casamento/uniao estável, evitando, segundo a advogada maria berenice dias, "enriquecimento sem causa".
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Equilíbrio entre famílias: A mudança busca priorizar filhos e pais em situações de conflito, especialmente em famílias reconstituídas (com filhos de relacionamentos anteriores).
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Contexto histórico: A legislação atual, criada em 2002, ainda reflete padrões familiares tradicionais, enquanto a nova proposta busca adaptar-se a estruturas mais diversificadas.
Tramitação e próximos passos
O projeto foi elaborado por uma comissão de juristas coordenada pelo senador rodrigo pacheco e aguarda despacho da presidência do senado para iniciar a análise em comissões temáticas. Enquanto isso, especialistas destacam a urgência da reforma, dada a rápida evolução das relações digitais e familiares.
As propostas do novo código civil representam um avanço necessário para garantir justiça e clareza em duas áreas críticas:
1.
Tecnologia: Ao reconhecer o valor econômico e afetivo do patrimônio digital, o projeto evita perdas e conflitos judiciais.
2.
Direito de família: A revisão dos direitos dos cônjuges reflete uma sociedade com modelos conjugais mais complexos, priorizando equidade entre herdeiros.
A aprovação dessas mudanças pode significar um marco na modernização do direito brasileiro, alinhando-o às demandas do século xxi. No entanto, o debate no senado será crucial para avaliar possíveis ajustes e garantir que as novas regras beneficiem todos os cidadãos de forma justa.