Hiperdiagnóstico de TDAH: Como diferenciar o transtorno de outras condições e os perigos de um diagnóstico errado

Nos últimos anos, o Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) tem sido amplamente discutido, especialmente pelo aumento significativo no número de diagnósticos. No Brasil, estima-se que cerca de dois milhões de pessoas convivam com essa condição, segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA).
Esse crescimento trouxe avanços na conscientização sobre o transtorno, mas também levantou preocupações. Será que todos os diagnósticos são precisos? Ou estamos diante de um possível hiperdiagnóstico, onde sintomas que podem ter outras causas estão sendo interpretados como TDAH?
Sintomas do TDAH e outras condições que podem ser confundidas
Nem toda desatenção, impulsividade ou inquietação é um indicativo de TDAH. Muitas outras condições apresentam sintomas semelhantes, o que pode levar a diagnósticos equivocados. Alguns exemplos incluem:
- Ansiedade e depressão: Pessoas ansiosas ou deprimidas podem ter dificuldade de concentração e demonstrar inquietação, sintomas também presentes no TDAH.
- Distúrbios do sono: Noites mal dormidas afetam diretamente a capacidade de foco e podem ser confundidas com déficit de atenção.
- Dificuldades de aprendizagem: Problemas cognitivos específicos podem prejudicar o desempenho escolar ou profissional, sem que isso signifique necessariamente um transtorno neurológico.
- Sobrecarga emocional ou estresse: Muitas pessoas enfrentam períodos de estresse que afetam a produtividade e a atenção, mas isso não significa que tenham TDAH.
Um dos maiores riscos do hiperdiagnóstico é tratar apenas os sintomas sem investigar suas causas. Quando um diagnóstico é feito sem critério, existe a possibilidade de que a verdadeira origem do problema passe despercebida.
Os perigos do diagnóstico errado e o uso indevido de medicamentos
Quando o diagnóstico de TDAH é feito de maneira inadequada, o paciente pode ser exposto a tratamentos desnecessários. Um dos principais riscos está no uso de medicamentos estimulantes, que são eficazes para quem realmente tem TDAH, mas podem ser prejudiciais para quem não precisa deles.
Os principais efeitos colaterais incluem:
1.
Insônia e alterações no sono
2.
Perda de apetite
3.
Aumento da ansiedade
4.
Possível agravamento de quadros depressivos
Além disso, um diagnóstico incorreto pode atrasar o tratamento adequado para outros problemas. Se uma pessoa ansiosa recebe um diagnóstico de TDAH, pode acabar tomando um medicamento que não trata sua ansiedade, deixando o problema real sem solução.
O autodiagnóstico e a influência da internet
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Com a popularização do tema, muitas pessoas se identificam com as características do transtorno e passam a acreditar que possuem TDAH sem uma avaliação profissional.
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Um estudo publicado na revista Neurology, conduzido pela neurologista Susanna Mierau, aponta que muitos adultos que buscam um diagnóstico já conhecem os critérios do transtorno por meio de questionários online ou relatos de conhecidos. Isso pode levar a uma percepção distorcida dos próprios sintomas.
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Muitas vezes, a pessoa não tem TDAH, mas apenas percebe que seu modo de funcionamento é diferente dos outros. Isso não significa, necessariamente, um transtorno neurológico.
Como garantir um diagnóstico correto
Para evitar diagnósticos errados, é essencial que a avaliação seja feita por um especialista qualificado e que leve em consideração diversos fatores, como:
- Histórico do paciente: Há relatos de dificuldades desde a infância? Os sintomas são constantes ou surgiram recentemente?
- Impacto na rotina: As dificuldades afetam significativamente o desempenho escolar, profissional ou social?
- Opinião de familiares e professores: Pessoas próximas percebem os sintomas e podem contribuir com informações importantes.
- Exclusão de outras condições: O médico deve investigar se há outros fatores que possam estar causando os sintomas.
O TDAH é uma condição real e, quando corretamente diagnosticado, pode ser tratado de forma eficaz, melhorando significativamente a qualidade de vida do paciente. No entanto, é fundamental que a busca pelo diagnóstico seja feita com cautela, evitando interpretações precipitadas e garantindo que o tratamento seja realmente necessário e adequado.