Inteligência Artificial e saúde mental: Ameaça ou revolução? Neurocirurgião explica o impacto da IA no cérebro humano

O neurocirurgião Paulo Niemeyer, diretor do Instituto Estadual do Cérebro no Rio de Janeiro, participou do programa CNN Sinais Vitais para discutir os desafios e oportunidades trazidos pela inteligência artificial (IA) à mente humana. Sua análise equilibrada aborda desde os temores de substituição até as aplicações médicas promissoras, oferecendo uma visão crítica e esperançosa sobre o tema.
A suposta "ameaça" da IA ao cérebro humano
Niemeyer iniciou sua fala com uma provocação: "O cérebro está passando por um momento de grande ameaça, que é a substituição pela inteligência artificial"
. No entanto, ele rapidamente relativizou a afirmação, lembrando que avanços tecnológicos do passado—como a televisão e a internet—também geraram pânico, mas acabaram integrados à sociedade de forma positiva.
- Histórico de resistência a inovações: Mostra como o medo do novo é recorrente, mas nem sempre se concretiza.
- IA como ferramenta, não rival: O cérebro humano mantém singularidades, como criatividade e consciência, que a IA não replica.
A ficção versus a realidade pós-humanista
O neurocirurgião criticou teorias que preveem um domínio da IA sobre os humanos, classificando-as como "exercícios de ficção". Para ele, o cérebro sempre será o "mestre", usando a tecnologia como auxílio—não como substituto.
- Evitar alarmismos: Ajuda a focar em aplicações práticas da IA, em vez de cenários distópicos.
- Reafirmar a centralidade humana: A tecnologia é uma extensão das capacidades cognitivas, não um rival.
IA na medicina: Avanços e limites
Niemeyer destacou o potencial da IA no tratamento de doenças como o Alzheimer, onde sistemas já ajudam pacientes a recuperar informações genéricas (ex.: dados históricos)
. Porém, ressaltou uma limitação crucial: a incapacidade de acessar memórias autobiográficas (ex.: "o que você comeu no almoço")
.
- Aplicações médicas: Assistência a pacientes com perda de memória.
- Desafios técnicos: A IA ainda não consegue reproduzir experiências pessoais armazenadas no cérebro.
O futuro: Memórias armazenadas em sistemas?
O especialista especulou sobre um cenário em que a IA poderia guardar memórias individuais, acessíveis por meio de chips ou senhas. Essa ideia, ainda que futurista, levanta questões éticas:
1.
Privacidade: Niemeyer defende que apenas o dono das memórias deveria acessá-las.
2.
Autonomia humana: O controle sobre os dados mentais seria essencial para evitar distopias.
Uma relação de colaboração, não de competição
A análise de Niemeyer combina cautela e otimismo. Se, por um lado, a IA não substituirá a mente humana, por outro, seu uso responsável pode revolucionar áreas como a saúde e o armazenamento de informações. O segredo, segundo ele, está em garantir que a tecnologia sirva ao ser humano—e não o contrário.