Lipedema: Entenda a gordura localizada que não desaparece e afeta muitas mulheres
O lipedema é uma condição médica ainda pouco conhecida, mas que afeta cerca de 10% das mulheres no mundo, o que representa mais de 10 milhões de pessoas no Brasil. A doença, recentemente reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), causa o acúmulo anormal de gordura nas pernas e braços, resultando em sintomas visíveis e desconfortáveis, além de ser comumente confundida com obesidade. No entanto, essa condição tem características específicas e um impacto profundo na saúde física e mental.
O que é o lipedema?
- O lipedema é uma doença que se caracteriza pelo acúmulo anormal de gordura nas extremidades do corpo, especialmente nas pernas e braços. Diferente da obesidade comum, essa gordura não responde a dietas e exercícios físicos. A gordura característica do lipedema é fibrosa e possui um aspecto de "casca de laranja", com nódulos que lembram a celulite. A doença pode ser reconhecida pela desproporção entre o corpo superior (geralmente mais magro) e os membros inferiores, que ficam com um formato mais volumoso, muitas vezes com o formato de "perna ampulheta".
Sintomas e diagnóstico: Como identificar o lipedema?
O lipedema pode se manifestar de diversas formas, com alguns dos sintomas mais comuns sendo:
- Nódulos nas coxas e braços que lembram celulite.
- Dor e sensação de peso nas pernas, além de hematomas frequentes e marcas na pele causadas pela má circulação.
- Desproporção no corpo: cintura fina, mas com aumento da gordura nas pernas e braços.
- Dificuldade em perder gordura nas áreas afetadas, mesmo com dieta e exercício físico.
O diagnóstico do lipedema é clínico e não depende de exames laboratoriais específicos. Médicos geralmente avaliam o histórico familiar, a relação com mudanças hormonais (como puberdade e gravidez), e o padrão de acúmulo de gordura.
Por que a doença é tão difícil de reconhecer?
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Apesar de ter sido descrita pela primeira vez em 1940, o lipedema continua sendo um mistério para muitos profissionais de saúde. Isso acontece porque seus sintomas podem ser confundidos com outras condições, como obesidade ou problemas circulatórios. Além disso, a falta de conhecimento sobre a doença faz com que muitos médicos a desconsiderem, acusando as mulheres de preguiça ou de usarem a doença como "desculpa" para seu peso.
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A inclusão do lipedema na Classificação Internacional de Doenças (CID-11) pela OMS, em 2022, é um avanço importante, pois pode ajudar a padronizar o diagnóstico e melhorar o tratamento da doença. No entanto, no Brasil, a implementação do CID-11 foi adiada para 2027, devido à necessidade de treinar profissionais de saúde e atualizar os sistemas de registro.
Impactos físicos e psicológicos do lipedema
Efeitos físicos:
- Problemas no sistema linfático: A gordura do lipedema pode sobrecarregar o sistema linfático, o que pode levar a complicações como o linfedema, dificultando o fluxo de líquidos no corpo e causando inchaço.
- Desgaste nas articulações: O excesso de gordura nas pernas pode levar ao desgaste das articulações, como joelhos, e até mesmo deformidades nas articulações e problemas de mobilidade.
Efeitos psicológicos:
- O lipedema pode afetar profundamente a saúde mental das mulheres, gerando baixa autoestima, depressão e ansiedade. Muitas mulheres com lipedema enfrentam bullying e sentem-se frustradas por não conseguirem perder a gordura nas áreas afetadas, mesmo com dietas e exercícios. Isso pode desencadear comportamentos alimentares problemáticos, como anorexia e bulimia.
Fatores que influenciam o lipedema
- O lipedema está intimamente relacionado a fatores hormonais e genéticos. Ele tende a piorar durante períodos de mudanças hormonais, como na puberdade, gravidez e menopausa. Além disso, o consumo de alimentos ricos em açúcares, gorduras e alimentos ultraprocessados pode agravar a condição, pois esses hábitos alimentares estimulam a inflamação no corpo, o que piora o quadro clínico.
Tratamentos para o lipedema: Como controlar a doença
Embora ainda não exista uma cura definitiva para o lipedema, o tratamento visa controlar os sintomas e melhorar a qualidade de vida das pacientes. Algumas opções incluem:
- Mudanças na alimentação e prática de exercícios: Focar em alimentos naturais, reduzir o consumo de ultraprocessados e evitar a inflamação no corpo.
- Drenagem linfática e uso de meias de compressão: Para reduzir o inchaço e melhorar a circulação nas áreas afetadas.
- Lipoaspiração: Em casos mais graves, a lipoaspiração pode ser indicada para remover as células de gordura afetadas. Embora a cirurgia não cure o lipedema, ela pode trazer melhorias significativas no longo prazo, já que as células de gordura removidas não se regeneram. No entanto, o alta custo dessa cirurgia
(cerca de R$40 mil)
torna difícil o acesso a todas as pacientes, principalmente para as que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS).
A importância da conscientização e acesso ao tratamento
- A conscientização sobre o lipedema tem aumentado nos últimos anos, com campanhas em redes sociais e celebridades como Yasmin Brunet compartilhando suas histórias e diagnósticos. Organizações como o Movimento Lipedema lutam para garantir que mulheres com a doença tenham acesso ao tratamento adequado, incluindo a cirurgia, através do SUS.
O lipedema é uma doença séria e, muitas vezes, invisível. Embora os avanços no reconhecimento da doença sejam significativos, ainda há muito a ser feito, especialmente no que diz respeito à educação médica e à acessibilidade ao tratamento. O mais importante é que as mulheres afetadas saibam que não estão sozinhas e que, com o diagnóstico correto e o tratamento adequado, é possível melhorar a qualidade de vida e controlar os sintomas dessa condição.