Crianças imigrantes nos EUA: Por que milhares podem ser deportadas sem direito a um advogado? Entenda o caso

Nos Estados Unidos, milhares de crianças imigrantes enfrentam processos de deportação sem representação legal, uma situação comparada a "tirar o paraquedas antes de pular do avião"
. Em 2025, o governo cancelou contratos com organizações que forneciam advogados a menores desacompanhados, deixando 26 mil crianças em risco. Este resumo explora o contexto, as leis envolvidas, os impactos humanos e as reações jurídicas a essa medida.
O cenário atual: Crianças sozinhas na justiça migratória
Em março de 2024, uma menina de 5 anos do México compareceu a uma audiência em San Diego sem advogado, acompanhada apenas pela mãe, que também era imigrante. A juíza Olga Attia tentou facilitar o diálogo com um livro para colorir, destacando a absurdidade da situação.
Dados alarmantes: Em 2022, 128 mil menores cruzaram a fronteira EUA-México sozinhos. Em 2024, dois terços tinham advogados, graças a políticas do governo Biden. Com o cancelamento dos contratos em março de 2025, essa rede de apoio foi desmontada.
A importância da representação legal
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Diferença crucial: Crianças com advogados comparecem a 95% das audiências; sem eles, a taxa cai para 33% (dados da Universidade de Siracusa).
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Obstáculos: Muitos são bebês, indígenas sem domínio do espanhol, ou vítimas de tráfico. Advogados como Jonathan Ryan (Texas) dedicam 100 horas por caso de asilo – tarefa impossível para uma criança.
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Exemplo: Uma cliente de Daniela Hernández Chong Cuy (advogada em Los Angeles) é uma bebê de 2 anos, filha de uma mãe adolescente. Sem assistência jurídica, seu pedido de asilo dificilmente seria aprovado.
As leis em jogo
1.
Lei de 2005: Protege menores não acompanhados, garantindo acesso a advogados "ao máximo possível" e proíbe sua detenção com adultos.
2.
Lei de 2008: Exige defesa legal para vítimas de tráfico. O programa Acacia, financiado pelo governo, atendia 26 mil crianças com US$ 200 milhões/ano até ser suspenso em 2025.
Contradição: O governo Trump alegou "conveniência" para cancelar os contratos, mas uma juíza federal bloqueou a decisão até abril de 2025, citando violação das leis existentes.
As consequências da falta de advogados
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Deportações injustas: Crianças podem ser devolvidas a países onde sofrem perseguição, abuso ou pobreza extrema.
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Custo social: Advogados argumentam que o gasto com tribunais (juízes, promotores, intérpretes) supera o custo de fornecer defensores.
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Narrativa política: O memorando de Trump de março de 2025 acusa advogados de imigração de "mentir" em pedidos de asilo, ameaçando puni-los – o que especialistas veem como intimidação.
Reações e resistência
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Ação judicial: Onze organizações processaram o governo, conseguindo uma liminar para restaurar temporariamente os serviços.
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Mobilização: Advogados como Ryan e Chong Cuy avaliam assumir casos pro bono, mas enfrentam dilemas éticos e risco de retaliação.
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Desinformação: O "czar da fronteira" Tom Homan afirmou que 300 mil crianças estariam "perdidas", mas advogados explicam que elas foram reunidas a familiares – processo monitorado pelo governo.
A disputa sobre advogados para crianças imigrantes reflete um conflito maior entre segurança fronteiriça e direitos humanos. Sem representação legal, menores vulneráveis são lançados a um sistema complexo, onde sua voz é ignorada. A decisão judicial de abril de 2025 trouxe alívio temporário, mas a incerteza persiste. Como destacou Ryan, "nenhuma criança deveria estar sozinha em um tribunal"
. A situação exige não apenas solução legal, mas um debate sobre os valores que os EUA pretendem defender.