"Mulheres do Job" no TikTok: Mentoria, polêmicas e a realidade do trabalho sexual nas redes sociais

Nos últimos anos, profissionais do sexo têm ganhado visibilidade no TikTok e outras redes sociais, compartilhando suas rotinas, dicas de segurança e até oferecendo mentoria para iniciantes. Essa tendência, chamada de "mulheres do job" (abreviação de "garotas de programa"), gera debates entre quem enxerga a iniciativa como forma de combater estigmas e quem critica uma possível "romantização" da profissão. A BBC Brasil conversou com especialistas e trabalhadoras do sexo para entender os impactos desse fenômeno.
A ascensão das "mulheres do job" nas redes sociais
Profissionais como Sara Müller, Deusa Artemis e Mariel Fernanda acumulam milhares de seguidores no TikTok e Instagram, onde discutem abertamente seus trabalhos. Elas abordam desde questões práticas (como precificação e segurança) até desafios emocionais e sociais.
1.
Objetivo: Desmistificar a profissão e criar uma rede de apoio.
2.
Reação do público: Dividida entre elogios pela transparência e críticas por suposta glamorização.
Exemplo: Sara Müller, com 60 mil seguidores, rebate: "Não é romantizar, é mostrar a realidade".
Mentoria e dicas para iniciantes
Algumas influencers oferecem consultoria paga, como Mariel Fernanda, que ensina a produzir conteúdo adulto. Outras, como Dihmayara, alertam sobre os riscos:
"O job não é o mundo da Disney".
- Foco: Segurança, saúde e estratégias para aumentar lucros.
- Preocupação: Evitar que novas profissionais entrem no mercado sem conhecimento dos perigos.
O debate sobre "romantização" e estigma
Críticos argumentam que os vídeos podem banalizar os riscos da profissão, como violência e marginalização. Já as profissionais defendem que a visibilidade ajuda a combater preconceitos.
- Antropólogo Thaddeus Blanchette (UFRJ):
"Ninguém questiona a glamourização de outras profissões. O problema é o estigma histórico".
- Delegada Cyntia Carvalho:
"A prostituição de rua, muitas vezes ligada à vulnerabilidade, não tem nada de glamourizado".
Desigualdades dentro do trabalho sexual
Nem todas as profissionais têm acesso às redes sociais ou condições de trabalhar com segurança.
- Pandemia: Ampliou a divisão entre quem migrou para o online e quem ficou em situações de risco.
- Dados: Mulheres trans, negras e idosas enfrentam mais marginalização e violência.
Ativismo e busca por direitos
Organizações como a Tulipas do Cerrado, liderada por Juma Santos, unem gerações de profissionais para lutar por reconhecimento e direitos trabalhistas.
- Estratégia: Combater estereótipos e pressionar por políticas públicas.
- Exemplo: Na Bélgica, profissionais já conquistaram licença-maternidade.
As "mulheres do job" estão redefinindo a narrativa sobre o trabalho sexual, usando as redes para educar, alertar e criar comunidades. Enquanto algumas encontram empoderamento na visibilidade, outras enfrentam realidades brutais de exclusão. O desafio, segundo especialistas, é ampliar o debate sem ignorar as desigualdades estruturais, garantindo que todas as profissionais tenham voz e direitos. Como resume Juma Santos:
"Precisamos unir o novo e o antigo para fortalecer a categoria".