Descriminalizar não é ser pró-aborto: Compreendendo a complexidade e buscando soluções ao invés de criar leis que apenas mascaram um problema de saúde pública
Para entender a complexidade e a importância do debate sobre a legalização do aborto no Brasil, é crucial analisar os eventos recentes e suas repercussões sociais e políticas. O Projeto de Lei (PL) 1904/2024, proposto pelo deputado Sóstenes Cavalcante, tem gerado intensos protestos, marcados pela "Maré Verde", movimento que defende a legalização do aborto.
Importância e Relevância
Contexto Legal e Social:
O PL 1904 propõe equiparar o aborto após 22 semanas de gestação ao homicídio, mesmo em casos de estupro ou risco à vida da gestante, desafiando direitos estabelecidos desde 1940. Esta tentativa legislativa representa um retrocesso significativo nos direitos reprodutivos e sociais das mulheres no Brasil.
Mobilização Social:
A "Maré Verde" emergiu como resposta, mobilizando milhares de pessoas em protestos tanto nas ruas quanto nas redes sociais. Este movimento destaca a resistência contra medidas que visam restringir ainda mais o acesso ao aborto seguro e legal.
Eventos e Reações
- Suspensão em São Paulo: Em dezembro de 2023, o Hospital Vila Nova Cachoeirinha suspendeu o serviço de aborto legal, gerando insegurança jurídica e reações de profissionais de saúde.
- Nota Técnica do Ministério da Saúde: Emitida em fevereiro de 2024, afirmava a legalidade do aborto sem limite de tempo, mas foi revogada rapidamente após reação da bancada evangélica.
- Resolução do CFM e Liminar do STF: Em abril, o CFM proibiu a assistolia fetal em casos de estupro, posteriormente suspensa pelo STF em maio após ação do PSOL.
"A descriminalização do aborto não é ser 'pró-aborto'; é reconhecer a realidade de que o aborto, embora indesejável, ocorre de forma ilegal devido à irresponsabilidade e ao descaso dos orgãos competentes. Compará-lo a homicídio ignora a complexidade dos direitos das mulheres e das crianças. O problema não é apenas o 'pró-vida', mas também o 'pós-vida'; muitas vezes, aqueles que defendem equiparar o aborto a homicídio são os mesmos que apoiam a pena de morte. O foco deve ser na proteção da saúde, na garantia dos direitos humanos e na compreensão das circunstâncias que levam às decisões sobre aborto."
O embate em torno do PL 1904 não se limita a uma questão legislativa momentânea; ele reflete uma disputa histórica e global sobre direitos reprodutivos. A mobilização da "Maré Verde" e suas estratégias têm ampliado o debate público, questionando valores sociais estabelecidos, como a concepção de família e infância. Este contexto destaca a importância de garantir um acesso seguro e responsável ao aborto como um direito fundamental das mulheres, enfatizando que a legalização ou criminalização são apenas aspectos de um tema crucial para a saúde pública.