O "Altruísmo" é exclusivo dos humanos? Como os Neandertais mostram a evolução da solidariedade
O altruísmo, caracterizado como ajudar sem esperar algo em troca, é um dos comportamentos mais intrigantes na evolução humana. Enquanto a ajuda recíproca é comum entre várias espécies, o altruísmo genuíno, que envolve cuidar de indivíduos vulneráveis sem retorno evidente, é marcante na nossa espécie.
Comportamento altruísta: A visão de Darwin
Charles Darwin descreveu o "espírito de simpatia" como um comportamento que aumenta as chances de sobrevivência entre indivíduos capazes de retribuir favores. Porém, ele identificou um marco na evolução humana: quando os cuidados passaram a ser direcionados a indivíduos incapazes de retribuir, como crianças ou pessoas com limitações.
1. Casos de Neandertais adultos:
- Exemplo de Elvis: Fóssil de 430 mil anos encontrado na Espanha com sinais de espondilolistese.
- Essa condição limitava a mobilidade, sugerindo que o indivíduo sobreviveu graças ao apoio do grupo.
- Possibilidade: Ajuda recíproca devido a experiências anteriores ou posição importante no grupo.
- Outros casos similares em Neandertais adultos também levantam dúvidas sobre serem exemplos de altruísmo ou ajuda recíproca.
2. Casos de crianças:
Benjamina:
- Menina pré-adolescente com craniossinostose precoce viveu mais de uma década, possivelmente com cuidados especiais.
- Contudo, não está claro se a assistência foi exclusivamente materna ou de todo o grupo.
Tina:
- Criança Neandertal com mais de seis anos encontrada na Cova Negra (Valência), com condições relacionadas à síndrome de Down:
- Sofria de perda auditiva, problemas musculares, vertigem e dificuldades para andar e engolir.
- A sobrevivência de Tina em condições tão desafiadoras sugere cuidados constantes do grupo, apontando para a primeira evidência sólida de comportamento altruísta em outra espécie humana.
Significado evolutivo
- O caso de Tina destaca a capacidade dos Neandertais de integrar a diversidade em seus grupos, cuidando de membros mais vulneráveis. Esse comportamento sugere que a empatia e a solidariedade não são exclusividades humanas modernas, mas uma característica evolutiva profundamente enraizada.
O estudo do altruísmo não apenas ilumina aspectos únicos da evolução humana, mas também reforça o papel da cooperação como uma vantagem evolutiva. A inclusão de indivíduos vulneráveis demonstra que a sobrevivência da espécie pode estar profundamente conectada à capacidade de cuidar do outro. A descoberta de casos como o de Tina é um lembrete poderoso da complexidade emocional e social de nossos ancestrais, ampliando nossa compreensão da humanidade como parte de um longo processo evolutivo.