O desafio das crianças superdotadas no Brasil: Por que nossas escolas estão falhando?
A realidade de crianças superdotadas no Brasil nem sempre corresponde à imagem idealizada de estudantes brilhantes que se destacam nas escolas. Na prática, essas crianças frequentemente enfrentam dificuldades de adaptação em ambientes escolares que não estão preparados para atender às suas necessidades específicas.
Quem são as crianças superdotadas?
Crianças superdotadas possuem habilidades cognitivas muito acima da média, geralmente medidas por testes de QI. De acordo com a Associação Mensa Brasil, um QI acima de 130
é considerado superdotação. Essas crianças costumam demonstrar facilidade excepcional em áreas como matemática, linguagem, música ou ciências, mas enfrentam barreiras significativas em seu desenvolvimento acadêmico e social.
O despreparo das escolas
Embora a Lei de Diretrizes e Bases (LDB) garanta o direito ao Atendimento Educacional Especializado (AEE) para crianças superdotadas, muitas instituições não aplicam adequadamente essas políticas. A falta de capacitação de professores é um dos principais problemas. Especialistas apontam que a formação docente raramente inclui treinamento sobre como lidar com altas habilidades.
Impactos desse despreparo:
- Tédio e frustração: Crianças se desinteressam por atividades inadequadas ao seu nível.
- Comportamentos problemáticos: Algumas são vistas como indisciplinadas ou agressivas devido à falta de estímulo.
- Exclusão: Em casos extremos, há relatos de expulsões ou "convites" para os alunos se retirarem.
Histórias que ilustram o problema
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O caso de Filippo, uma criança de 7 anos com QI 134, exemplifica a complexidade da situação. Desde pequeno, ele demonstrava habilidades excepcionais, como aprender inglês sozinho aos 3 anos. Na primeira escola, o despreparo dos professores para estimulá-lo resultou em tédio e comportamentos inquietos. Apenas na segunda escola, que adota uma metodologia de aprendizado ativo, Filippo encontrou um ambiente que valoriza e desenvolve suas habilidades.
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Já o filho de Luciana (nome fictício), com QI 130, enfrentou dificuldades emocionais e comportamentais devido à falta de atenção às suas necessidades. Ele passou por várias escolas sem receber suporte adequado, acumulando advertências e até expulsões.
Como melhorar a situação?
Especialistas e pais apontam diversas soluções para melhorar o atendimento às crianças superdotadas:
- Capacitação docente: Incluir formação sobre superdotação nos currículos das faculdades de educação.
- Acompanhamento individualizado: Oferecer atividades personalizadas e adaptadas às habilidades das crianças.
- Apoio emocional: Professores devem atuar como facilitadores, criando um ambiente de confiança e segurança.
- Investimentos públicos: Ampliar a oferta de cursos e materiais sobre superdotação para professores e gestores.
O papel do governo e políticas públicas
- O Ministério da Educação (MEC) afirma estar desenvolvendo ações para educação inclusiva, incluindo materiais específicos sobre altas habilidades e a formação de professores especializados. Em São Paulo, por exemplo, a Política de Educação Especial inclui planos pedagógicos voltados para crianças superdotadas e estratégias como a Avaliação Pedagógica Inicial (API).
Crianças superdotadas têm um potencial imenso, mas, sem o suporte adequado, podem enfrentar exclusão e subaproveitamento de suas capacidades. É essencial investir na capacitação dos professores, na criação de ambientes escolares inclusivos e no desenvolvimento de políticas públicas efetivas. Assim, poderemos transformar desafios em oportunidades, garantindo o pleno desenvolvimento dessas crianças e o enriquecimento da sociedade como um todo.