Desigualdade e o Prêmio Nobel de Economia: Reflexões de James A. Robinson
James A. Robinson, renomado economista e cientista político, foi um dos vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2024, ao lado de Daron Acemoglu e Simon Johnson. O prêmio foi concedido em reconhecimento aos estudos empíricos e teóricos que os três realizaram para compreender as disparidades na prosperidade entre diferentes nações e as complexas dinâmicas da desigualdade.
O estudo da desigualdade e suas raízes históricas
Robinson tem dedicado mais de três décadas a explorar questões centrais sobre a desigualdade global. Sua principal contribuição é entender como as instituições políticas e econômicas moldam as trajetórias de prosperidade e pobreza das sociedades. Ele argumenta que a forma como as instituições são estruturadas — se inclusivas ou extrativistas — influencia diretamente o desenvolvimento econômico e a distribuição de oportunidades.
- Instituições inclusivas: Essas são instituições que promovem a participação de um número maior de pessoas na vida econômica e política de um país, gerando crescimento sustentável e oportunidades equitativas.
- Instituições extrativistas: São aquelas que concentram poder e riqueza em uma pequena elite, perpetuando desigualdade e limitando o desenvolvimento para a maioria da população.
O foco de Robinson é mostrar que as diferenças de prosperidade entre países não surgem por acaso. Elas estão profundamente ligadas ao modo como as sociedades se organizaram ao longo da história e como os sistemas políticos e econômicos foram configurados.
América Latina e África subsaariana: Desigualdade enraizada
Um aspecto crucial das pesquisas de Robinson é a análise das regiões da América Latina e da África Subsaariana, áreas marcadas por séculos de exploração colonial e desigualdade sistêmica. Segundo ele, a pobreza e a marginalização nessas regiões estão intrinsecamente ligadas a um passado de colonialismo, escravidão e exploração dos povos indígenas, o que perpetuou as desigualdades até os dias de hoje.
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América Latina: Ele destaca que a região continua lutando para superar as desigualdades históricas deixadas pelo colonialismo. A pobreza é profundamente enraizada e se manifesta em diferentes formas de exclusão social, desde a marginalização dos povos indígenas até a falta de acesso equitativo a oportunidades econômicas.
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Apesar disso, alguns países, como Chile e Bolívia, demonstraram progresso na inclusão social e nas instituições democráticas. No entanto, outros, como Venezuela e Nicarágua, continuam presos a crises políticas e econômicas que agravam ainda mais as desigualdades.
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África subsaariana: Essa região também enfrenta dificuldades significativas para superar as instituições extrativistas que herdou do período colonial. A desigualdade e a pobreza permanecem disseminadas, limitando o desenvolvimento social e econômico.
Desafios à democracia e a ameaça da desigualdade
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Um dos pontos centrais do discurso de Robinson é que a desigualdade não é apenas uma questão econômica, mas um problema que ameaça diretamente o funcionamento das democracias. Ele aponta que a desigualdade cria um terreno fértil para o populismo, com líderes que oferecem soluções rápidas e superficiais para problemas complexos, muitas vezes em detrimento das instituições democráticas.
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Robinson ressalta que a democracia é relativamente nova em muitas partes da América Latina e que, apesar das promessas feitas ao povo de que a democracia resolveria seus problemas, os avanços têm sido lentos e frustrantes para muitos. Isso tem levado à busca por alternativas, como líderes populistas que oferecem segurança imediata ou soluções autoritárias, como no caso de Nayib Bukele, em El Salvador, ou Andrés Manuel López Obrador, no México.
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Essa frustração com a democracia também é evidente em outros lugares do mundo. Nos Estados Unidos, por exemplo, Robinson observa que, apesar de ser uma das maiores economias do mundo, o país enfrenta crescentes níveis de desigualdade e uma queda na mobilidade social, o que coloca em risco a estabilidade de suas instituições democráticas.
Como construir sociedades mais inclusivas?
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Para Robinson, a chave para um futuro mais igualitário está na construção de instituições políticas e econômicas inclusivas. Ele argumenta que é necessário criar sistemas que ofereçam oportunidades iguais para todos e que permitam que as pessoas participem ativamente na vida política e econômica de seus países. A tarefa, no entanto, não é simples.
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Ele relembra o fracasso da "Primavera Árabe", que no início parecia uma promessa de inclusão e transformação no Oriente Médio, mas que acabou por não conseguir criar instituições democráticas duradouras. Isso ilustra como a mudança estrutural é um processo complexo e difícil, especialmente em regiões com profundas raízes de desigualdade.
O futuro da desigualdade
- Olhando para o futuro, Robinson alerta que a desigualdade continuará a desafiar as sociedades em nível global, a menos que ações concretas sejam tomadas para reestruturar as instituições e garantir maior inclusão. Ele enfatiza que é "muito difícil ter uma sociedade culturalmente democrática quando há níveis enormes de desigualdade". Para ele, a democracia só funciona plenamente quando as instituições políticas e econômicas dão voz e oportunidades a todos, algo que ainda está longe de ser alcançado em muitas partes do mundo.
A pesquisa de James A. Robinson traz uma mensagem clara: a desigualdade não é apenas um problema econômico, mas um desafio fundamental para a prosperidade e a estabilidade social. Suas análises mostram que a solução está na criação de instituições inclusivas, que promovam a participação equitativa e o crescimento sustentável. No entanto, como ele ressalta, essa transformação exige tempo, paciência e esforços coordenados para mudar as estruturas profundas que mantêm a desigualdade viva.