Impactos da reeleição de Donald Trump nas relações EUA-Brasil - 'Brasil não é prioridade para EUA'
A recente reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos levantou questionamentos sobre a posição dos EUA no cenário global e sobre como o Brasil e a América Latina podem se adaptar a essa nova fase. Segundo Carlos Gustavo Poggio, professor de Relações Internacionais e especialista em relações Brasil-EUA, a vitória de Trump representa um movimento que prioriza o nacionalismo e o protecionismo, afastando-se da tradição americana de liderar esforços internacionais. Esse novo cenário, com uma política externa menos focada na cooperação global, terá reflexos importantes, mas, para o Brasil, as mudanças diretas podem ser limitadas.
Impacto para a América Latina e o Brasil
- Para Poggio, a América Latina em geral, e o Brasil em particular, não estão entre as prioridades da política externa americana. Nos Estados Unidos, o foco na América Latina se restringe quase exclusivamente à questão da imigração. Nem democratas nem republicanos demonstram grande interesse por questões latino-americanas que não envolvam diretamente seus interesses.
- A relação entre Brasil e EUA tende a manter a mesma estabilidade histórica, com pequenas alterações, mas sem grandes mudanças. Esse padrão de constância nas relações bilaterais indica que o Brasil não deve esperar um tratamento diferenciado no governo Trump, que busca concentrar a política americana nos próprios problemas internos.
A nova ideologia de Trump e seu efeito global
- A vitória de Trump simboliza o fortalecimento de uma nova ideologia política, que enfatiza o nacionalismo e um distanciamento da globalização econômica e cultural. Trump, ao longo de sua campanha, promoveu uma visão de mundo isolacionista e protecionista, deixando claro que a prioridade é "America First" ("América em Primeiro Lugar").
- Esse posicionamento é visto como inspirador para movimentos de direita em diversas partes do mundo, incluindo o Brasil, onde a base bolsonarista vê em Trump um exemplo a seguir. Entretanto, Poggio acredita que, mesmo que a vitória de Trump possa animar simpatizantes, ela não terá um impacto decisivo nas próximas eleições brasileiras. Isso ocorre porque, assim como nos EUA, a economia será o tema central na disputa presidencial brasileira.
Estilo político de Trump e a espectacularização da política
- A política de Trump não é apenas sobre nacionalismo, mas também sobre estilo e comportamento. Poggio destaca que Trump popularizou uma abordagem política que valoriza o espetáculo e a imagem sobre políticas tradicionais, mostrando que o eleitorado, em muitas situações, prioriza carisma e afirmações fortes em vez de civilidade e discursos elaborados.
- Esse estilo de liderança, marcado pela comunicação direta, despreocupação com formalidades e falta de sutileza, mudou a maneira como a política é percebida. Esse estilo já influenciou outros líderes ao redor do mundo e poderá continuar a ser um modelo para políticos que buscam popularidade por meio de discursos polarizadores.
Posicionamento de Lula e relação diplomática com os EUA
- No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, pouco antes das eleições americanas, declarou apoio público à candidata democrata Kamala Harris, além de ter criticado Trump. Essa postura foi interpretada como um erro por Poggio, pois envolveu o Brasil diretamente em uma questão eleitoral americana, algo que diplomatas evitam para manter uma postura neutra.
- Após a confirmação da vitória de Trump, Lula rapidamente ajustou seu posicionamento e parabenizou o republicano. Essa reação foi considerada uma decisão acertada por Poggio, que acredita que uma diplomacia pragmática e focada nos interesses do Brasil é essencial para o país no cenário atual, em que as relações internacionais são cada vez mais voláteis.
Redefinição da ordem internacional e reorganização global
- Com Trump, os Estados Unidos devem abandonar definitivamente a postura de liderança global que construíram após a Segunda Guerra Mundial. Esse novo governo deve assumir uma visão mais isolacionista, focando em proteger a economia e os interesses internos, ao invés de apoiar a cooperação e as alianças internacionais.
- Poggio acredita que, diante desse cenário, outros países precisarão reorganizar suas estratégias internacionais e buscar novas alianças. Para o Brasil, isso pode significar uma adaptação às novas dinâmicas internacionais, onde os Estados Unidos desempenharão um papel menos colaborativo em questões globais, como o comércio, o meio ambiente e a segurança.
A reeleição de Donald Trump não deve trazer grandes mudanças para a relação entre Brasil e EUA, que historicamente é estável. No entanto, o novo governo americano, focado no nacionalismo e no protecionismo, representará um desafio para a cooperação internacional e para as instituições globais que antes contavam com o apoio dos EUA.
Para o Brasil, a principal lição da vitória de Trump é o foco na economia: o eleitorado americano demonstrou que, quando a economia vai mal, outros temas perdem importância, e Poggio acredita que esse fator também será determinante nas próximas eleições brasileiras. A vitória de Trump sinaliza que o cenário global está mudando, e que o Brasil, junto a outros países, precisará adotar uma postura estratégica para se adaptar a um mundo com menos cooperação e mais ênfase em interesses nacionais.