Projeto de anistia do PL pode beneficiar Bolsonaro? Entenda o impacto, a polêmica e o que vem pela frente

No dia 14 de abril de 2025, o líder do Partido Liberal (PL) na Câmara dos Deputados, Sóstenes Cavalcante (RJ), protocolou um requerimento de urgência para votação do projeto de lei que prevê anistia a participantes de atos contra a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), incluindo os eventos de 8 de janeiro de 2023. A proposta, que já conta com 264 assinaturas (mais que o necessário para aprovação), pode, segundo especialistas, beneficiar inclusive o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), réu no Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta participação em ações golpistas pós-eleição de 2022.
O que propõe o Projeto de anistia?
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Objetivo inicial: Criado em novembro de 2022, o projeto buscava anistiar manifestantes que bloquearam rodovias após a derrota de Bolsonaro no segundo turno.
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Ampliação em 2023: O texto foi modificado para incluir os envolvidos nos ataques de 8 de janeiro, quando sedes dos Três Poderes foram invadidas em Brasília.
Principais pontos:
- Anistia para participantes, financiadores e até quem promoveu mobilizações nas redes sociais.
- Extinção de penas para condenados e suspensão de processos em andamento.
- Alteração do Código Penal para exigir prova de "violência grave" em crimes contra o Estado democrático.
- Preservação de direitos políticos de investigados ou condenados.
Como Bolsonaro poderia ser beneficiado?
Especialistas apontam brechas no texto:
1.
Termos amplos: Trechos como "eventos anteriores ou posteriores a 8 de janeiro com correlação" (artigo 1º, §3º) e "crimes conexos a motivações políticas" (artigo 1º, inciso I) poderiam abranger as ações de Bolsonaro, julgadas no STF.
2.
Avaliação jurídica: Professores como Davi Tangerino (Uerj) e Pierpaolo Bottini (USP) afirmam que a redação atual permite interpretações favoráveis ao ex-presidente.
A disputa política e as reações
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Oposição (PL): Alega que as penas aos condenados são excessivas e defende a anistia como "pacificação". Cavalcante acusa o governo de pressionar deputados a retirar apoios.
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Governo e aliados: Ministros como Gleisi Hoffmann (PT) admitem discutir redução de penas, mas rejeitam anistiar líderes do "suposto golpe".
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STF: Ministros como Alexandre de Moraes criticam a proposta, afirmando que "não há pacificação com impunidade". O STF pode julgar a constitucionalidade do projeto se aprovado.
O processo de aprovação e seus desafios
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Urgência parlamentar: O requerimento acelera a votação, pulando comissões, mas depende do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), para entrar na pauta.
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Regras: O Regimento Interno não estabelece prazo para análise de requerimentos, dando margem a manobras políticas.
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Cenário atual: Com 264 assinaturas, o PL tem apoio teórico para aprovar o projeto, mas a base governista pode tentar obstruir a votação.
Os próximos passos e o impacto institucional
O projeto de anistia simboliza um dos maiores embates políticos do Brasil pós-2022, misturando discussões sobre justiça, responsabilidade e polarização. Se aprovado, pode reacender debates sobre a interferência do Legislativo em processos judiciais e a impunidade de crimes contra a democracia. Por outro lado, sua rejeição ou modificação pode fortalecer o discurso da oposição sobre "perseguição política". O STF, como guardião da Constituição, terá papel crucial nesse processo, especialmente se questionado sobre a legalidade da medida. Enquanto isso, a sociedade acompanha um capítulo decisivo para o futuro da accountability democrática no país.