Trump, caudilhismo e impacto global: Análise de Joseph Nye sobre a política externa americana

O cientista político Joseph Nye, da Universidade Harvard, fez uma análise aprofundada sobre a estratégia de Donald Trump na política externa dos Estados Unidos. Em entrevista à BBC News Brasil, ele comparou Trump a caudilhos latino-americanos, destacando sua abordagem personalista e menos limitada por preocupações morais. A seguir, exploramos os principais pontos levantados por Nye e o que eles significam para o cenário global.
Trump e a "armadilha" para Zelensky
- Recentemente, Trump repreendeu Volodymyr Zelensky em público durante um encontro televisionado na Casa Branca.
- Para Nye, o episódio foi planejado estrategicamente para enfraquecer a posição do presidente ucraniano e justificar a interrupção do envio de recursos militares dos EUA para a Ucrânia.
- Trump quer demonstrar poder e se gabar de acabar rapidamente com a guerra, mesmo sem influência direta sobre Vladimir Putin.
Trump busca se consolidar como um negociador implacável, mas suas ações podem minar a confiança de aliados.
Comparação com caudilhos latino-americanos
- Segundo Nye, Trump governa de forma personalista e carismática, semelhante a líderes autoritários da América Latina.
- Diferente de presidentes com ideologias bem definidas, ele prioriza sua imagem e popularidade em vez de princípios políticos estáveis.
- Isso o torna menos limitado por questões morais, favorecendo decisões baseadas em conveniência política.
Esse estilo de liderança pode gerar instabilidade, pois políticas externas e alianças são definidas conforme interesses momentâneos, sem compromisso de longo prazo.
Trump e a política de coerção contra aliados
- O ex-presidente tem adotado táticas de pressão econômica e ameaças militares contra países aliados, como México, Canadá e até nações europeias.
- Impôs tarifas comerciais e exigiu concessões estratégicas sob ameaça de represálias.
- Apesar dos ganhos imediatos, Nye questiona se essas vantagens se sustentarão a longo prazo.
- O perigo dessa abordagem:
- No curto prazo, países cedem à pressão. No longo prazo, podem reduzir sua dependência dos EUA, enfraquecendo o poder americano.
O declínio do "soft power" americano
- Nye é o criador do conceito de soft power, que se refere à influência global sem o uso da força.
- Durante o governo Trump, esse poder de atração foi significativamente reduzido, como já ocorreu após as guerras do Vietnã e do Iraque.
- Biden conseguiu recuperar parte da imagem dos EUA, mas um novo mandato de Trump pode prejudicar ainda mais a confiança global.
A recuperação do soft power pode ocorrer, mas o dano à reputação americana pode levar anos para ser revertido.
O impacto nas relações internacionais
- Trump mobilizou uma parcela isolacionista da população americana, impondo sua visão minoritária de política externa.
- Países europeus estão fortalecendo sua defesa sem depender dos EUA, o que pode indicar uma nova configuração de poder global.
- Se os EUA continuarem instáveis politicamente, aliados podem buscar alternativas para manter a segurança internacional.
Cenário possível
- O mundo pode se reorganizar sem os EUA como principal líder global, o que enfraqueceria a influência americana no longo prazo.
Trump adota uma abordagem autoritária e oportunista, usando coerção para garantir vantagens imediatas. No entanto, essa estratégia pode ter efeitos colaterais graves, como o enfraquecimento das relações internacionais e da posição dos EUA no mundo.
Joseph Nye alerta que, apesar dos danos causados pela gestão Trump, o soft power americano pode ser recuperado. No entanto, essa instabilidade gera incertezas, e o futuro da liderança global dos EUA ainda está em jogo.