Vacina contra Aids - Lenacapavir: Por que o Brasil não está entre os 120 países com acesso ao combate ao HIV?
O Lenacapavir, um medicamento injetável de aplicação semestral, foi eleito o avanço científico de 2024 pela revista Science. Essa droga inovadora, considerada por muitos como o mais próximo que já chegamos de uma "vacina" contra o HIV, mostrou eficácia de quase 100% em estudos clínicos. Sua função é bloquear o capsídeo, uma estrutura essencial do HIV, impedindo a infecção e a replicação do vírus.
Essa inovação representa um marco no combate ao HIV, especialmente ao superar limitações da profilaxia pré-exposição (PrEP) oral, que depende da adesão diária dos pacientes. A aplicação subcutânea e de longa duração do Lenacapavir pode facilitar a prevenção em grupos vulneráveis, como homens que fazem sexo com homens, pessoas trans, trabalhadores do sexo e outros grupos prioritários.
Eficácia comprovada em estudos clínicos
Dois estudos clínicos, Purpose-1 e Purpose-2, destacaram a alta eficácia do Lenacapavir:
Purpose-1:
Avaliou mulheres cisgênero na África Subsaariana. Nenhuma participante que recebeu o Lenacapavir se infectou, enquanto o grupo que usou PrEP oral registrou 55 infecções.
Purpose-2:
Incluiu voluntários de diversos países, incluindo o Brasil. Entre os que usaram Lenacapavir, a proteção foi de 99,9%, com apenas dois casos de infecção.
Esses resultados reforçaram o reconhecimento da Science e da Organização Mundial da Saúde (OMS), que classificaram o medicamento como um divisor de águas na luta contra o HIV.
O Brasil e a desigualdade no acesso
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Apesar de parte dos estudos clínicos terem ocorrido no Brasil, o país foi excluído da lista de 120 nações que receberão versões genéricas e acessíveis do Lenacapavir. Esses países, de renda baixa ou média-baixa, foram priorizados em um acordo da farmacêutica Gilead Sciences com laboratórios internacionais.
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No Brasil, onde os custos estimados das doses anuais variam de
US$ 25.395 a US$ 44.918 (cerca de R$ 153 mil a R$ 271 mil)
, o preço é considerado inviável para o sistema público de saúde. Estimativas indicam que a produção em larga escala poderia reduzir esse custo para menos deUS$ 100 anuais
, mas ainda não há previsão de acesso a esses preços reduzidos no país.
Desafios e possíveis soluções
A exclusão de países de renda média, como o Brasil, traz desafios éticos e sociais, agravando desigualdades no combate ao HIV. Especialistas apontam que a ampliação do acesso ao Lenacapavir depende de:
- Pressão sobre a indústria farmacêutica para incluir países de renda média em acordos de licenciamento.
- Produção local ou importação de versões genéricas.
- Investimento governamental em negociações para compra em larga escala, reduzindo custos.
- A Gilead Sciences argumenta que o licenciamento visa ampliar o acesso globalmente, mas ainda enfrenta críticas por excluir regiões como a América Latina.
Impactos globais e futuro
- O Lenacapavir pode revolucionar a prevenção do HIV, especialmente em locais de alta vulnerabilidade. Sua introdução em 2026, caso aprovada por órgãos regulatórios como a Anvisa, FDA e EMA, será acompanhada de desafios para garantir equidade no acesso. Instituições como Unaids reforçam que esse avanço só será transformador se acessível a todos.
O Lenacapavir representa um progresso histórico na luta contra o HIV, mas sua exclusão de países como o Brasil expõe desigualdades estruturais na saúde global. É essencial que governos, organizações internacionais e a indústria farmacêutica colaborem para democratizar o acesso a essa inovação, transformando o impacto científico em uma ferramenta efetiva de justiça social e saúde pública.