Análise: Congresso e ajuste fiscal- Como o 'Sindicato dos Ricos' bloqueia as reformas necessárias para reduzir as desigualdades no Brasil
O Brasil enfrenta desafios significativos em sua trajetória rumo à redução das desigualdades sociais e ao equilíbrio fiscal. Recentemente, o sociólogo Marcelo Medeiros, renomado especialista em desigualdade, ofereceu uma análise crítica sobre as medidas propostas pelo governo para o ajuste fiscal, destacando a atuação do Congresso Nacional e suas implicações para as camadas mais vulneráveis da sociedade.
O papel do Congresso Nacional
- Medeiros observa que o Congresso tem se comportado como um "sindicato dos ricos", dificultando a implementação de reformas fiscais que poderiam beneficiar a maioria da população. Essa postura impede a adoção de medidas que visem a tributação mais equitativa e a redução de subsídios que favorecem setores específicos, como o agronegócio. O especialista enfatiza que, ao resistir a essas reformas, o Congresso contribui para a manutenção de um sistema tributário regressivo, onde os mais pobres acabam arcando com o peso da arrecadação.
Impacto das medidas de ajuste fiscal
- As propostas de ajuste fiscal apresentadas pelo governo incluem cortes de gastos que afetam principalmente os programas sociais e limitações no aumento do salário mínimo. Medeiros critica essas medidas, argumentando que elas penalizam os mais pobres e não atacam as causas estruturais da desigualdade. Ele destaca que o aumento do salário mínimo tem sido um dos principais mecanismos de redução da pobreza no Brasil desde o Plano Real, e qualquer restrição nesse sentido compromete avanços significativos na melhoria das condições de vida das camadas mais vulneráveis.
Alternativas propostas
- Para Medeiros, o foco do ajuste fiscal deveria ser a revisão dos subsídios fiscais concedidos a setores como o agronegócio, que representam uma renúncia de receitas significativa. Em 2022, o país deixou de arrecadar
R$ 581 bilhões
devido a esses subsídios, o que equivale a mais de 5% do PIB. Além disso, ele sugere a integração tributária entre Pessoa Jurídica e Pessoa Física, de modo que a tributação seja mais justa e eficiente, alinhando-se às práticas adotadas em países como os Estados Unidos.
A análise de Marcelo Medeiros revela que as atuais propostas de ajuste fiscal no Brasil carecem de uma abordagem mais equitativa, que não sobrecarregue os mais pobres e que busque fontes de arrecadação mais justas. É imperativo que o Congresso Nacional adote uma postura mais responsável e comprometida com a redução das desigualdades sociais, promovendo reformas que beneficiem a maioria da população e não apenas interesses específicos. Somente por meio de políticas fiscais mais justas e eficazes será possível avançar na construção de uma sociedade mais igualitária e economicamente estável.