Maurício Pestana: O perigoso entretenimento do racismo
A exploração do racismo como entretenimento: influenciadores buscam popularidade, mas negligenciam a justiça
Desde o caso de George Floyd, o tema do racismo ganhou grande visibilidade midiática, tornando-se uma tendência para falar, opinar e denunciar atos racistas. No entanto, essa exposição também gerou uma nova categoria de profissionais: os "influenciadores do racismo". Essas pessoas buscam mais likes e audiência do que promover a justiça, transformando o racismo em conteúdo de entretenimento nas redes sociais. Além disso, sites e veículos de comunicação sensacionalistas também se aproveitam dessa tragédia para ganhar visibilidade.
A questão que se levanta é até que ponto essas práticas contribuem para o avanço da luta antirracista ou se acabam banalizando atos racistas. Recentemente, três eventos relacionados ao racismo ganharam destaque nas redes sociais e na mídia. No entanto, é importante questionar se essas denúncias efêmeras realmente trazem mudanças efetivas ou se desaparecem tão rapidamente quanto surgem.
Enquanto o racismo continua sendo um crime inafiançável no Brasil, previsto no artigo 5º, XLII da Constituição, ainda não vemos nenhum criminoso preso por essa prática. Na realidade, o racismo tem se tornado um tema explorado midiaticamente, enquanto medidas efetivas de combate a esse problema são negligenciadas.
Como alguém que luta contra o racismo há quase 40 anos, testemunhei e participei da criação de importantes políticas públicas nessa área. No entanto, é curioso observar que essas conquistas não foram alcançadas nessa era de modismo em torno da questão racial e do antirracismo midiático.
Diante do surgimento de termos como "racismo estrutural" e "racismo recreativo", questiono se estamos caminhando para uma era na qual o racismo se torna mero entretenimento. Um tema que emociona, nos faz opinar, mas que no final do dia nos permite dormir tranquilos, pois afinal, somos apenas seres humanos.