Desnutrição, toxinas e agrotóxicos: Como fatores escondidos criaram epicentros de Microcefalia no Brasil
Em 2015 e 2016, o Brasil enfrentou um surto de microcefalia, relacionado à infecção pelo vírus zika, transmitido pelo mosquito Aedes aegypti. A biomédica Patrícia Garcez, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e atualmente professora no King's College em Londres, investigou as causas dessa epidemia e descobriu que fatores como desnutrição materna, toxinas na água e agrotóxicos contribuíram significativamente para a alta incidência de microcefalia em certas regiões do país.
Importância e Relevância dos Fatores Contribuintes
Desnutrição Materna
- Hipótese Investigada: A qualidade da dieta da gestante poderia influenciar o desenvolvimento de microcefalia no bebê.
- Descoberta: A falta de proteínas na alimentação das gestantes em regiões afetadas aumentou a vulnerabilidade ao vírus zika, levando a malformações no cérebro dos fetos.
- Resultados Experimentais: Camundongos gestantes com dieta restrita em proteínas e infectados com zika apresentaram fetos com menor formação de neurônios e cérebros reduzidos.
Toxinas na Água
- Hipótese Investigada: A presença de cianobactérias produtoras de neurotoxinas em reservatórios de água poderia agravar os efeitos do zika no desenvolvimento fetal.
- Descoberta: A substância saxitoxina, produzida pela cianobactéria Raphidiopsis raciborskii, dobrou a quantidade de células neurais mortas pelo zika em experimentos laboratoriais.
- Resultados Experimentais: A combinação de saxitoxina e infecção por zika em camundongos gestantes aumentou significativamente os casos de microcefalia.
Agrotóxicos
- Hipótese Investigada: O uso de agrotóxicos em regiões agrícolas poderia influenciar a incidência de microcefalia.
- Descoberta: O herbicida 2,4-D, amplamente usado no Centro-Oeste, quando combinado com a infecção por zika, elevou o risco de malformações cerebrais nos fetos de camundongos.
- Resultados Experimentais: Gestantes de camundongos expostas a 2,4-D e infectadas com zika tiveram descendentes com problemas de desenvolvimento cerebral.
A pesquisa liderada por Patrícia Garcez revelou que a combinação de desnutrição materna, toxinas na água e uso de agrotóxicos contribuiu para a criação de "bolsões de microcefalia" durante o surto de zika no Brasil. Embora o zika seja o principal responsável, esses cofatores amplificaram a incidência e gravidade da síndrome congênita do zika (SCZ). A compreensão desses fatores é crucial para prevenir futuros surtos e desenvolver estratégias de mitigação, dado que o zika e o Aedes aegypti continuam a circular no Brasil.